quinta-feira, 30 de março de 2017

Velhos costumes que não esqueço

Em uma conversa recente com minha amada irmã Analuce, citei uma frase que há anos não a escutava: “cuidado com o sereno!” Exagerei, hoje reconheço, na criação dos meus filhos. Quando crianças não os deixavam sair à noite com receio de que pegassem resfriados. E se fosse necessário sair, tinha que enrolar uma toalha ou algum pano na cabeça deles. Hoje não se vê mais isto.
Quando notava que eles estavam caidinhos, esmorecidos, recorria sempre às rezadeiras ou benzedeiras, mulheres que benziam as crianças ou mesmo pessoas adultas, com um raminho de planta, recitando algumas orações. Esse aprendizado passou de mãe para filha, de tia para sobrinha ou de parentes  bem próximos. Atualmente não encontramos mais essas mulheres, pois a modernidade fez o interesse desaparecer, não existindo mais mercado para tal costume. Será que existe ainda em algum lugar? As senhoras que cuidavam dos meus filhos: dona Maria Barros (foto ao lado), conhecida como Maria de Beato, moradora do Bairro Socorro e dona Olindina, vizinha minha da Rua Santa Rosa.

Lavadeiras de roupas.  Eis aí uma profissão muito requisitada na década de 50 e meado de 60. Nessa época, o nosso Rio Salgadinho não era poluído e tinha água suficiente. Lembro bem que dona Neném, era a nossa lavadeira, morava próxima da nossa casa, na Rua dos Passos, hoje Rua Clóvis Beviláqua, a nossa casa localizava-se na Rua São José. Chegava bem cedinho e pegava a trouxa de roupa que estava bem amarrada, e o sabão em barra  colocado dentro. O fardo era bem pesado e precisava do auxílio de alguém para colocar na cabeça dela. À tardinha, ela retornava com a roupa bem enxuta e cheirosa. O rio foi secando, a poluição tomando conta e as lavadeiras passaram a executar seus trabalhos em lavanderias públicas. Com a chegada da máquina de lavar roupas nas residências os seus préstimos foram minguando e hoje não é fácil encontrá-las. Recorre-se ultimamente às Lavanderias que já entregam as roupas lavadas e passadas.

Em uma viagem recente a São Paulo encontrei na Praça da República um senhor com uma caixa em formato de casinha e dentro uma jandaia (gasguita que só!). Mediante um pequeno pagamento ela retirava da casinha, com o bico,  um papel que lhe trazia sorte. Voltei ao tempo, e lembrei que quando criança ia às vezes à lojas Credilar de propriedade de meu pai, na Rua Santa Luzia, em frente ao Edifício M. Oliveira, na entrada do Mercado Central e lá existia um senhor que tinha um papagaio que fazia a mesma coisa. Gostava de ficar observando, e pedia para papai  comprar um ingresso para ver que surpresa o papagaio tinha para me dizer.

25 de março, dia em que se comemora a Abolição da Escravatura no Ceará, primeiro Estado a libertar os escravos no nosso País. Hoje pouco se comenta, não é divulgado e acredito que nas escolas talvez não se mencione mais tal fato. Na minha época, as escolas comemoravam e era até feriado. Os tempos mudaram, a evolução assediou e extinguiu os nossos valores e o que se enquadra e se divulga é só corrupção e tragédias. Fatos que nos orgulham são ultrapassados.

Visitando a Colina do Horto em um desses dias, descobri por acaso um senhor debaixo de um guarda-sol com um chifre de boi bem enfeitado pendurado no pescoço contendo torrado, conhecido também como rapé. Imediatamente surgiu em minha memória a figura irreverente do mais famoso vendedor de torrado da nossa cidade. Ele passava no comércio, precisamente nas principais ruas, como Rua São Pedro, São Paulo, Santa Luzia e Alencar Peixoto, ostentando um enorme chifre de boi, tendo no seu interior o famoso torrado perfumado com essências de hortelã, mentol ou eucalipto. Acredito que poucas pessoas atualmente se utilizam dessa meizinha, que tinha como objetivo fazer com que a pessoa espirrasse. 
A todos os leitores desta Coluna desejo uma Feliz Semana Santa. Aguardo notícias ou comentários de vocês. Paz e Bem!         

Um comentário:

  1. Eita que agora fiz uma regressão. Ainda bem que foi aqui em casa, deitada numa redinha de xadrez. Como é bom voltar no topo é relembrar as coisas de um recente passado.
    Olhe Neuma, tomei injeção aplicada por Dona Maria de Beato, cheirei o famoso torrado, este, tirávamos escondido do bizaquinho de Seu Manoel Balbino. Kkkkkkkkkkkkkkkk.
    Íamos tomar banho no Fio Salgadinho, no sítio de Dona Bolinha e ficávamos perto das lavadeiras por medo de nos afogarmos.uma das lembranças que muito recordo era Seu Zé Leite entregando leite.pegava o caneco, metia no tambor e depois passava a o dorso da mão para limpar a "venta". Kkkkkkkkkkkkkkk. Não lembro o nome daquele baixinho que vendia cavaco chinês e andava tocando um triângulo para avisar que estava passando.
    Às vezes me ponho a lembrar como eramos livres para brincar aqui na praça e hoje os brinquedos das crianças são os mesmos dos adultos.

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