quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Lourdes Marques e sua história de vida

Filha de João Marques da Silva e de Maria Carmina da Conceição, Lourdes Marques, nasceu no dia 25 de janeiro de 1929 em Juazeiro do Norte, na Quadra São Vicente, próximo da Rua do Salgadinho, hoje chamada de Trav. Maria Gonçalves, ou Praça do Memorial. Ela conta que quando tinha de três a quatro anos, ia com seus pais  para escutar os conselhos do Padim Cícero, quando ele pregava em sua residência, na Rua São José, onde hoje funciona o Museu Padre Cícero. Em suas palavras ela diz: “Eu ficava bem quietinha, calada, em obediência aos meus pais, porque eles ensinavam que quando os mais velhos estavam falando criança tinha que ficar calada. Minha mãe sentava no chão,  me colocava no colo, e eu adormecia. Quando Padim Cícero terminava o sermão, ela me acordava, e a gente ia para casa. Era gente demais, o quarteirão ficava praticamente lotado. Minha mãe contava que meu pai recorria a ele para pedir a opinião sobre um determinado trabalho, um aconselhamento na verdade. Lembro do dia de sua morte. Do caixão em cima da janela para o povo ver. Gente gritando, chorando, o luto, o clamor abalou o Juazeiro. Tecidos e mais tecidos pretos foram comprados para vestir a população em luto pela morte do seu maior benfeitor.” O tempo foi passando e Lourdes na companhia de seus oito irmãos. Vicente, Lia, Duca, Tonho, Zeca, Ciada, Cila e Maroly aproveitaram na medida do possível a infância, porque mesmo crianças já ajudavam nos afazeres domésticos as mulheres e os homens ajudavam o pai como ajudantes de pedreiro. Quando criança, ela contou que deu uma topada e arrancou a cabeça do dedo naquela época não existia antibiótica, usava somente uma pomada amarela para cicatrizar, mas doía demais. E à noite quando deitava era que doía, então começava a chorar não deixando os irmãos dormirem.  Duca e Tonho não  suportavam vê-la chorando e o que faziam, deixavam-no no quintal e fechavam a porta. O choro aumentava ainda mais, além da dor e o medo do escuro! São memórias que ela ainda guarda presente e que me confidenciou. A primeira Eucaristia fez com a idade de 11 anos. E sempre alimentou um grande desejo de participar de uma Lapinha, como cigana, porque achava linda a roupa toda colorida. Sua mãe, porém, sempre dava uma desculpa alegando que não dava certo. Até que ela descobriu que a roupa da sua primeira comunhão daria certo para ser a lua e dessa vez sua mãe permitiu. E ela com sua lucidez e um sorriso cativante canta para nós o versinho da lua: 
“Sou a lua que dos astros venho
A lapinha de Belém
Sou a lua do alto da princesa 
Que adorna imensa grandeza
Sou a lua que dos astros venho, 
A lapinha de Belém.”

Algumas vezes ia ficar com Lia em Missão Velha e lá aprendeu a fazer bainha de vestidos, de calças e os primeiros ensaios na arte de bordar à mão. No ano de 1950 casou com Luiz de Souza Lima, tendo treze filhos, oito homens: Luilson, Lázaro, Luiz Filho, Lailson, Lairton, Lécio, Luzivaldo e Luiz Carlos; e cinco mulheres: Luciene, Luzenilde, Luzeneide, Luzilânia e Maria do Carmo. Os nomes foram escolhidos pelo pai, com exceção de Maria do Carmo, que teve seu nome ligado a uma promessa feita a Nossa Senhora do Carmo. O parto era de alto risco e Luordes  se apegou com muita fé pedindo a intercessão de nossa Senhora e como foi atendida, batizou a filha com o nome de Maria do Carmo. Assim, com exceção deste, os nomes dos demais filhos do casal começam sempre com a letra L. Como os negócios de Luiz não iam muito bem, ele resolveu ir trabalhar fora e levando junto seu filho mais velho, Luilson, para morar em Belo Horizonte. Lá conseguiu trabalho e mandou buscar a família.  Lourdes  ficou com medo de levar uma família tão numerosa, ela e os doze filhos,  e decidiu não ir.  Mandou dizer para Luiz que ele mandasse o sustento dos filhos e ela iria também trabalhar para ajudar no sustento da família. Começou a vender calçados, perfumes, acompanhada de seu filho, Luiz Filho. As filhas cuidavam dos afazeres domésticos e dos irmãos menores. Entretanto, a despesa era alta, aluguel para pagar e débitos nas bodegas, então, sua irmã,  Maroly, que estava morando sozinha após a morte da mãe, dona Carmina, convidou-a para morar com ela, na mesma casa que ela nasceu. Sem nenhuma cerimônia aceitou o convite e mudou-se definitivamente com os filhos, e é nesta casa que reside até hoje. O marido Luiz não quis acordo e resolveu nunca mais voltar para o convívio da família em Juazeiro, chegando a falecer por lá. As dificuldades, os filhos para estudar, fardamentos, livros, remédios, muitas despesas, enfim. Lia, sua irmã, como forma de ajudá-la levou para morar com ela mais uma filha, Luzilânia, porque Luciene já morava com ela. Maroly, sua irmã caçula trabalhava no escritório de seu Severino Alves, na loja A Vencedora, e contribuía financeiramente. Zeca, seu irmão que morava bem próximo, na Rua da Conceição soube das suas preocupações e disse: “Lourdes, todo sábado à tarde, quando eu voltar da feira de Barbalha, venha ou mande um dos meninos buscar uma mesada que darei para ajudar”. Lourdes acrescenta:  Por muitos anos recebi essa contribuição do meu irmão tão generoso. Mas, mesmo assim faltava dinheiro porque as despesas eram altas demais por causa da família numerosa. Lourdes conta ainda que dona Marlúcia Almeida, vizinha do seu irmão Zeca, fabricava e ainda fabrica confecções me ofereceu para dar o abanhado, pregar botões e casear as confecções que ela fabricava. Aceitei e junto com Nilde, Neide e Lânia ficávamos até tarde da noite executando esse trabalho, que nos ajudou bastante. Também ajudei muitas vezes a De Jesus Batista preparando caldo nos eventos políticos. E foi graças a esses meus préstimos que consegui um contrato no Estado e no Município como Merendeira e Auxiliar de Serviços. Trabalhei na Escola do Menor; Escola 3 de junho; Grupo Padre Cícero e Secretária de Educação. Ministrei no ano de 1979 Alfabetização Funcional pelo Mobral”. E haja coisa, como ela mesmo diz. Sem contar com os bordados, fuxico, crochê, panos de prato e ponto de cruz. É uma verdadeira artista com as mãos. Ela faz um desabafo: “Até hoje não deixo de fazer algumas coisinhas, apesar das meninas não gostarem muito, porque eu fico com dor de cabeça por ficar com a cabeça abaixada. Não consigo parar; é de mim, ficar fazendo alguma coisa, se não fizer fico triste”. Apreciadora de eventos no Memorial, como palestras, apresentação de festivais escolares, show de cantores etc. faz questão de estar presente. Convidada por famílias amigas para participar da Renovação do Coração de Jesus, não falta. Ela conta mais da sua vida: “Faço parte do Apostolado da Oração há muitos anos e fui incentivada por minha irmã, Lia, para me associar. No mês de junho consagrado ao Sagrado Coração de Jesus compareço diariamente acompanhada de uma filha para fazer minha hora de guarda como manda os preceitos do associado. Estive presente na despedida de Lia da Presidência dessa entidade na qual ela esteve à frente durante quarenta e oito anos, entregando para Marinalva. Faço parte como associada da Irmandade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Sou uma pessoa feliz, abençoada por Deus e por Nossa Senhora das Dores e Padim Cícero”. Ela é avó de dezessete netos, sendo oito homens: Luilson Junior, Fabiano, Davi, Jardel, Jailson, Ítalo, Tiago e Hariel; e nove mulheres: Patrícia, Tatyana, Girlene (falecida), Magdalene, Magnólia, Laís, Vitória, Bruna e Héren. Bisnetos tem nove: cinco homens, Uriel, Henrique, Pedro André, João Miguel e Luiz Arthur; quatro mulheres: Mayana, Samira, Nicole e Melissa. Em minhas observações, como sobrinha por afinidade, porque ela é a única tia viva de Daniel, meu esposo, por parte do seu pai, Zeca Marques, percebi ao longo da minha convivência com ela, tratar-se de uma pessoa muito simpática, amável, carismática. Em todos os lugares onde trabalhou deixou sua marca de boa funcionária e boa amiga. É uma excelente contadora de histórias, se deixa encantar nas narrativas. Várias vezes foi entrevistada pelos meios de comunicação para narrar o que sabe e o que viu a respeito do Padre Cícero. Toda a família tem uma verdadeira admiração por ela, por tudo que passou e venceu. Os filhos se sentem orgulhosos desta mãe tão abnegada e batalhadora que hoje comemora oitenta e nove anos com uma lucidez maravilhosa e a vaidade não fica de lado, sempre anda muito arrumada, não dispensa os brincos, o batom e o rouge, como ela diz rindo. Que grande dádiva de Deus, que Ele a abençoe lhe proporcionando mais anos de vida para alegria e felicidade dos que a cercam. Parabéns tia Lourdes! Meus e do meu esposo Daniel, seu sobrinho. Todos nós lhe queremos muito bem. Felicidades! 
Galeria de fotos





















segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Viagem de trem, uma aventura inesquecível

Na década de 60, menina-adolescente, fiz uma viagem de trem acompanhada de minha tia/madrinha Odete e de seu esposo, José Leornes, para Fortaleza. Essa foi a minha primeira viagem para visitar a nossa capital. Mamãe me presenteou com esse passeio devido à grande tristeza que me abateu após a morte do meu pai, Luiz Pereira e Silva, prematuramente, com apenas 45 anos de idade. Mamãe disse para titia Odete: "Leva Neuminha para que ela se alegre, despareça”. E assim aconteceu. Saímos no final da madrugada e chegamos em Fortaleza já noite. Nos locais que o trem parava surgiam os vendedores de frutas (tangerina, laranja, pinha), de amendoim, rolete de cana etc. Os vagões eram invadidos por eles e, outros ofereciam pelas janelas. Quando o trem dava sinal de partida, com seu apito típico, todos se afastavam e acenavam com a mão. Aqui coloco uma pausa e lembro com bastante nitidez do pavor que senti na subida da serra de Baturité, por causa dos precipícios  e curvas acentuadas. Não tinha coragem de olhar, fechava os olhos e ainda colocava as mãos em cima deles para não ver absolutamente nada. Sempre fui muito medrosa. Quando criança nunca tive coragem de subir a serra do Horto de carro. Na Sexta-feira Santa, subia com familiares e amigos a pé. Em uma excursão que fiz ao Rio de Janeiro fazia parte do roteiro visitar Petrópolis, e que surpresa! A serra circundada por curvas e que dá a impressão de uma espiral, visualizando enormes precipícios e se vê também fileira de carros abaixo, na forma de um anfiteatro. Não tinha vontade nenhuma de olhar o espetáculo. O suor nas mãos e os olhos fechados, pedindo a Deus que terminasse esse suplício. O medo continuava a me perseguir. Passado o tempo fui por necessidade obrigada a dirigir, ai, ai e aí o que fazer? Enfrentar com unhas e dentes o medo, consegui desta feita a batalha do trânsito e no exame de motorista, fui aprovada na primeira tentativa. Essa conquista causou mais alegria em Daniel, meu marido, do que em mim. Sabem por que? Porque ele desejava se libertar das minhas aporrinhações de quando o chamava para me levar para algum lugar. Aquela friezinha na barriga continuava e fazia parte já do meu instinto de defesa. Em viagem de férias em um determinado momento, Daniel dirigindo bem devagar, e eu me controlando, mas a minha paciência chegou ao limite e disse pra ele: “Meu bem, não dar para acelerar um pouco mais, dessa forma chegaremos amanhã”! Ele bem calmo, tirou um pouco os olhos da direção e disse: “Neuma, tenho escutado de você nesses trinta e tantos anos de casado: Chagas abertas, coração ferido... Não é pra menos que os meus nervos já estejam cansados”. Não aguentei e soltei uma gargalhada muito gostosa. Pé na estrada. Viagens, passeios e vamos nós. Nesta última viagem que fizemos recentemente à Curitiba, fizemos o passeio de trem para Morretes, atravessando a Serra do Mar. Antes tivemos acesso ao folder com as explicações, as imagens e todas as informações. Resolvemos fazer o passeio, pois, duas vezes já tínhamos ido para Curitiba e não tivemos coragem. Agora, amadurecida e distante dos medos e fobias não vacilei, vamos, vamos Daniel. E assim, em um dia chuvoso e de pouco sol, o trem com 23 vagões lotados de turistas subiu lentamente a imensa serra, passou por penhascos descomunais, passou por túneis escuros e extensos, vegetação imensa, hortênsias aos montes, cachoeiras até chegar à cidadezinha bem no alto a nos esperar para um passeio em calçamentos de paralelepípedo, com lojinhas, bancas de biscoitos, doces, bombons fabricados artesanalmente e os souvenires da região, o sorvete caseiro que é uma das atrações.. O medo evaporou-se. Curti demais, olhei tudo (Daniel ficou petrificado na cadeira), fotografei e voltei com a sensação leve de ter participado de uma grande aventura. Se vocês um dia forem a Curitiba não deixe de fazer o passeio de trem a Morretes. É uma experiência inesquecível. Uma viagem para testar os nervos. Mas deixo este lembrete: consulte antes para saber se o trem está funcionando, pois agora devido ao grande movimento de cargas do porto de Paranaguá há meses em que o serviço turístico fica desativado. 
Uma semana rica de graças e de bênçãos e um maravilhoso 2018 para vocês, meus queridos leitores.



As fotos acima são do trem na estação de Juazeiro do Norte