sábado, 20 de outubro de 2012

O Normal Pedagógico e os seus últimos dias em Juazeiro


Tomei conhecimento que o Curso Normal da Escola Moreira de Souza está em vias de extinção, estando hoje com poucos alunos. Meu esposo, Daniel Walker, que estudou e foi depois professor da Escola Normal, me disse que na década de 70 a escola vivia o seu apogeu, com oito salas de aula só no primeiro ano, formando anualmente dezenas de normalistas, diferente da primeira turma (1937) que só tinha cinco diplomandas, cujos nomes são: Heloísa Coelho Alencar, Maria Martins Camelo, Maria Moreira, Maria Ceci Borges e Dacilde Sobreira Cruz.
Que lástima! Um colégio de renome, que é sucessor da primeira Escola Normal Rural do Brasil, inaugurada no dia 13 de junho de 1934, um mês antes do falecimento do Padre Cícero que foi um dos seus fundadores. Em 2014 completaria 80 anos de fundação. Quantas gerações foram diplomadas por essa escola. Quantas alunas fizeram o Normal e exerceram o magistério com tanto amor. Quantos segredos, sonhos, aflições, confidências aconteceram nos bancos escolares. Muitas alunas se tornaram professoras desse conceituado estabelecimento de ensino e algumas até chegaram a assumir o cargo de diretor, como é  caso de dona Valba Gondim de Sousa, que semana passada comemorou seus 80 anos de idade. Dona Amália foi a diretora que passou mais tempo na direção da Escola Normal Rural e dona Valba foi a que passou mais tempo na direção do Moreira de Sousa. Em sua gestão, dona Valba trouxe de volta a farda antiga da Escola Normal, a qual marcou época: saia de cor vinho, gravata da mesma cor e blusa branca. Havia também uma farda especial para o período do Estágio, coisa muito chique! O Ensino Normal é uma necessidade, pois não existe ninguém melhor do que a normalista para lidar com crianças em fase escolar. O conteúdo da grade curricular das normalistas é muito rico em Sociologia, Psicologia, Filosofia, Ciências, Português, Matemática, Educação Artística e Didática, afora o Estágio. Estas disciplinas as instruem para saber lidar e compreender o pequeno ser que irá passar por suas mãos. O professor primário como era chamado antigamente precisava atender a todos os requisitos como Estágio de observação (assistir aulas em outras escolas); Estágio supervisionado, dar aulas durante uma semana e finalmente o estágio supervisionado de um mês, no qual a professoranda era a regente da classe. O professor titular deixava à sala e ela assumia a sala de aula. A professoranda, portanto assume o seu verdadeiro papel, que é o de mestra. A sua capacidade de doação é nesse momento testada. Necessário se faz a presença da professora-orientadora, aquela que acompanhou e orientou todos os passos para o melhor desempenho do estágio. Lembro-me que a professora Nilmar Belarmino assumiu esse cargo na Escola Normal durante um bom período. Foi uma excelente orientadora. Exigente, cobrava de suas alunas o melhor, não aceitava deslizes, indisciplinas ou faltas. Cobrava com muito rigor o relatório do estágio. Fazia questão de visitar suas alunas todos os dias em suas salas de aula. Quando a aluna está estagiando expõe todo o material que desenvolveu e preparou durante dois semestres, o material didático como é chamado. Consta de cartazes, jogos, chamada, diário, fichas, planos de aula. Um ano intenso de atividades, muitas responsabilidades, mas o importante de tudo isso é a conclusão do curso. O recebimento do diploma para exercer a profissão. Uma profissão que talvez não seja tão aplaudida, tão reconhecida, porém o que não se pode negar é que todas as outras profissões dependem do professor primário. Aquele que colocou os pontinhos formando uma letra para que a criancinha unisse; cobrisse as letras; ensinasse o alfabeto; os numerais; a juntar as palavras e iniciar a leitura. Sei que para o professor do pré e dos primeiros anos conquistar a afeição e apego das crianças que estão iniciando sua vida escolar é uma tarefa não muito fácil. As crianças são tiradas do seio materno, de sua rotina do lar e precisam ser bem acolhidas para que não cheguem a conduzir traumas para o resto da vida. Por isso é necessário que o professor primário se identifique com as disciplinas que irão nortear todo o desempenho do seu trabalho. E assim, cada dia mais o mundo moderno incorre em erros, não deixando fincar marcas de afinidades, de disponibilidade. O que vigora nos nossos dias é a rapidez dos acontecimentos e as mudanças radicais no sistema de ensino, prejudicando de certa forma o alunato infantil.  A figura do professor primário não pode ser negligenciada; mesmo na era da informática a confiança do aluno no professor precisa continuar. Pois, só assim teremos uma juventude solidária, enraizada nos conhecimentos que adquiriu e aprendeu nos seus primeiros anos de escola. Este é o meu protesto diante do que está determinado, o fim iminente do Curso Pedagógico do Centro Educacional Professor Moreira de Sousa, escola essa que já foi motivo de muito orgulho para nossa cidade. Não sei exatamente porque o curso está se extinguindo, então seria bom que o Crede desse uma explicação oficial ao público explicando as verdadeiras causas. 

Dona Amália, dona Valba e Nilmar