segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Pincelando a memória com pessoas que moravam na Rua São José no tempo da minha infância

Rua São José nº 750, quarteirão entre Rua São João (hoje Alencar Peixoto) e Rua Santa Luzia, onde vivi a minha infância e adolescência. Nessa época a rua era muito calma, podíamos brincar de correr, de macaca, de pular corda e de rodas, que gostosura. A criançada se divertia pra valer. Tudo mudou, a rua invadida pelos carros não nos permite ficar um segundo sequer no seu leito porque corremos o risco de sermos atropelados. Mas isto no momento não vem ao caso, o que quero mostrar para vocês, caros leitores, são as senhoras, melhor dizendo as vizinhas amigas com quem convivi quando criança e algumas continuaram vizinhas até a minha idade adulta. Lembro: 
Dona Izaura Arraes – proprietária de uma pequeno ponto de vendas em sua própria residência, na esquina da Rua Santa Luzia. Costumava sentar na calçada à noitinha numa cadeira de balanço envolvida num xale de crochê, naquela época existia o friozinho gostoso a boca da noite. Moravam com elas duas sobrinhas, Eunice(professora) e Francinete (funcionária do INPS). 







Dona Heloísa - esposa de dr. Feitosa. Sua casa era repleta de árvores e de animais. Na minha visão de criança era uma praça. Os pés de benjamins bem aparados ao redor de todo muro da casa. Canteiros cobertos de Mimo do céu e bancos de madeira no jardim. Dona Heloísa muito elegante despertava a minha atenção e não posso esquecer que usava costumeiramente uma redinha preta cobrindo seus cabelos. 




Dona Clotilde - esposa de seu Argemiro Mota, conceituado comerciante no setor de couros, material para sapateiro e plástico.  Voz mansa, educada, tratava as crianças com muita delicadeza. No jardim de sua casa cultivava rosas e todos os dias as colhia para colocar nos pés do Sagrado Coração de Jesus e do Sagrado Coração de Maria. Fazia crochê divinamente bem. Sentava no banco na entrada de sua casa com as amigas ou no alpendre conversando e os dedinhos não paravam de trabalhar, não errava um ponto sequer. Tinha acesso a sua casa porque Vera e Penha, suas filhas, faziam parte da nossa turma (minha irmã Regina, Marleide (prima-irmã) e Socorro de titia Maroli.

Dona Ninita (Antônia Sousa Lima) - casada com Cícero Dantas Vieira. Sua casa ficava vizinha à garagem de seu Cândido Correia. Mãe de oito filhos, era uma dona de casa exemplar, se encarregava de todos os afazeres domésticos e ainda encontrava tempo para ler revistas de artistas, lazer que apreciava. Porém, o seu forte mesmo era assistir as sessões de cinema no Eldorado, e segundo informações de seu filho, Renato a sessão das Moças do Cine Teatro Iracema, tempos e tempos atrás. Quando ia à sua casa a procura de Cinita, sua filha, a encontrava na labuta, mas elegante em saltos altos, tenho essa imagem nas minhas lembranças.

Dona Herbene - esposa de seu Bessa, barbeiro procurado pelos homens mais abastados da cidade. Dedicava-se totalmente a criação dos onze filhos,  e aos deveres de dona de casa. Não tinha tempo para descansar. Quando ia para sua casa a procura de Celene (sua filha) para brincar, sempre a encontrava trabalhando, ora na cozinha, ora banhando os filhos, ora costurando. Não lembro de tê-la visto descansando, só em atividade. Soube educar seus filhos com muita disciplina e dedicava-lhes um grande amor. Nunca a vi com voz alterada ou de mau humor. 

Dona Lica Barbosa - muita amiga de mamãe, morava vizinho à casa de seu Bessa e de dona Herbene. Mãe de Janete, Diva e Geraldo. Os seus olhinhos bem vivos, esverdeados. Gostava de usar conjuntos de saia e blusa e sapatilhas. Não tinha muita vaidade, era uma pessoa bem simples.  





Maria da Cruz casada com Manoel Bernardo (sargento da polícia militar) mãe de nove filhos, quatro mulheres e cinco homens. Uma das filhas do primeiro casamento. Isa, foi afilhada de batismo dos meus pais. Ah! e o cachorro de balaio, chamado White, não posso esquecê-lo. Danado, mordia as pessoas que passavam na calçada. Wilson, um dos seus filhos trepava na janela para fugir para a rua e White denunciava logo, latindo sem parar. Ita, muita amiga de Munda que morava em minha casa e Ivone, enteadas de Maria da Cruz. 


Seu Cazuza e dona Geraldina - vizinhos da casa de mamãe. Antes da construção de sua bela casa, existia uma oficina de conserto de carros, de propriedade de Gilmares. Dona Geraldina vizinha e amiga de mamãe. Sempre nos recebia bem e gostava de nos oferecer quitutes feitos por sua irmã, dona Teinha. A casa muito bem ornamentada, meus olhos não cansavam de ver tanta beleza. Lembro de quando dona Geraldina foi acometida de hepatite e mamãe foi visitá-la e me levou. Como fiquei impressionada com a sua cor, estava muito amarela. Naquela época o nome dado para essa moléstia era icterícia). Sua  filha Guimar, nossa companheira das seções dos cinemas, Eldorado e Capitólio.
Dona Minelvina - vizinha da nossa casa. Gostava de fumar cachimbo. Na sala de visitas ou sala do santo como ela chamava, existiam dois bancos escuros para as pessoas se sentarem. Nina, Tereza, Beba e dona Minelvina gostavam de ficar sentadas na calçada. Alguns vizinhos participavam dessa roda de conversa.




Titio Macedo e Suleta - sua casa em frente a nossa. Muito larga, lembro bem. Na entrada ao lado do jardim um pequeno lago revestido de azulejos azul celeste, onde minhas primas gostavam de brincar. Um alpendre com cadeiras de balanço, sala de visitas, sala de jantar, na parede quadros pintados por Suleta; cozinha, quartos, o quintal e a caixa d’água. Titio reclamava quando ficávamos atravessando a rua, de nossa casa para a sua casa.

Dona Sevi - mãe de Aguinaldo e de Aguinailde, foi minha costureira por um bom tempo. Aguinailde nossa amiga e companheira das seções de cinema, das tertúlias e das brincadeiras lá em casa, debaixo do pé de cajarana. Dona Sevi nos acompanhava para assistirmos os filmes, só assim mamãe permitia. Soa ainda em meus ouvidos a sua gostosa gargalhada assistindo os filmes.


Seu Quinco Arrais e dona Delmira - a vacaria e a sua casa na esquina. Em frente a sua casa a fábrica de bebidas de sua propriedade. Os barris de madeira onde colocavam os ingredientes para fermentar. Sinto ainda quando lembro o odor desagradável que exalava. Dona Delmira cheia de joias no braço e no pescoço, unhas muito bem feitas, andava muito pronta e perfumada. Sentava na calçada junto com sua irmã Maria em cadeiras de ferro branca com almofadas. Seu carro, uma Brasília de cor bege, costumava ensinar a dirigir para as amigas. Cumprimentava os vizinhos, mas não se dispunha a visitá-los. As crianças gostavam de enfezá-las passando o tempo todo na calçada e pedindo licença. Na esquina do lado do sol a bodega de seu Cícero Lolô. Lugar apreciado demais pelas crianças. Qualquer moedinha que pegávamos o lugar certo para comprar chicletes, picolé de açúcar, broa, pirró era lá. Muito brincalhão, se divertia com a gurizada. Posteriormente passou a ser o proprietário da bodega seu Neneu. 
E assim amigos leitores coloco aqui em pequenas pinceladas pessoas que conheci quando criança e que as guardei na memória com carinho.
Desejo a todos uma semana maravilhosa e cheia de Deus!