sábado, 30 de setembro de 2017

O meu adeus para Maria Duarte

Conheci Maria quando comecei a frequentar a casa de Daniel, como sua namorada. Ela para dona Maria era como se fosse da família. Chegou muito jovem para ajudar dona Maria nos cuidados com Jorge Luiz, o filho caçula que nasceu prematuro. E daí foi ficando, e conseguiu assumir outros afazeres domésticos. Não muito chegada à cozinha, o que fazia a pedido de dona Maria era o arroz. E olhe, algumas vezes deixava queimar. O que gostava de fazer mesmo era lavar os pratos, panelas e talheres, e enxugá-los, após o almoço. Domingo, dia de reunião da família, dona Maria preparava o almoço com muitas regalias e precisava de seu auxílio para cortar as batatas, para serem fritadas, especialidade da casa. Prato exigido sempre pelos convidados. Existiu entre dona Maria e Maria uma amizade muito grande, as duas se entendiam tão bem que faziam tudo para agradar cada uma a outra. Em certas ocasiões, dona Maria tomava o partido de Maria com relação a seu Zeca. A presença de Maria como guardiã dos meus filhos, Michel e Daniel Junior, foi imprescindível.  Sempre solícita, atendia sempre ao meu chamado em momentos de necessidade. Na época em que cursava faculdade, ela acompanhada de minha sogra, dona Maria, iam para minha casa ficar com Michel quando bebê. Todo santo dia tinham esta penitência de 2ª a 6ª feira, de cuidar dele. Ainda bem que não foi por muito tempo, apenas um semestre. Mas, essa missão ela fazia com muito prazer. Brincava, acalentava e dava até para cochilar. Tempo de dificuldades para nós, sempre contamos com sua ajuda. Daniel Junior, o nosso segundo filho, ela costumava passear com ele, levava para procissões e não deixava de lhe dar as guloseimas como algodão doce, pipoca, bombom. No nascimento das minhas netas, fez questão de ir logo visitá-las na companhia de seu Zeca e de dona Maria. Sofreu muito com a morte dos três filhos de seu Zeca e de dona Maria: Valter, Samuel e Jorge Luiz. Em todos os eventos da família esteve presente, como na comemoração dos 90 anos de seu Zeca, de dona Maria e no lançamento do livro Neuma, uma mulher de fibra e de fé, escrito por Daniel Walker. Com a morte de seu Zeca, esposo, parceiro, companheiro de dona Maria, as duas se uniram muito mais, uma dando força a outra. Fiel escudeira de dona Maria, dobrou os cuidados e afagos, os cafunés assistindo às novelas na televisão. E os gatos, quando adoeciam ou morriam, ela ficava dias sem comer, deixando dona Maria contrariada e preocupada. O jeito era arranjar o mais rápido possível outro gato para preencher o vazio. E quando dona Maria adoeceu, antes de completar um ano da morte de seu Zeca, ela chorava muito. Aflita e agoniada, procurava na oração, na recitação do terço e nas visitas à Capela do Socorro diante do Santíssimo, alívio para o sofrimento de dona Maria que sentia muitas dores. Durante oito meses, zelou e cuidou dela, junto com Nilde Marques. Com a morte de dona Maria, se sentiu desamparada, sem vontade de viver e não quis continuar na casa que a abrigou por mais de 50 anos. Pediu-nos que alugássemos uma casa, porque queria ter a sua própria casa. Fizemos o seu gosto, compramos o necessário para o seu conforto. Ficou durante dois anos e seis meses morando sozinha, e à noite contava com a companhia de Magdalene que dormia com ela. Sem ânimo, saudosa dos entes queridos que se foram, seu organismo foi se debilitando e doenças começaram a surgir, e muitas vezes teve de ser hospitalizada, recebendo toda assistência da Unimed por conta do plano que nós fizemos para ela, fazia muitos anos. Resolvemos, com a autorização dos seus dois sobrinhos, Cícero Josué e Francisco Josafá, colocá-la na Casa do Idoso, localizada na Rua Pedro Cruz Sampaio, bairro Juvêncio Santana. O administrador, Irmão Bernardo, a recebeu com um sorriso, segurou a sua mão e pediu que se acomodasse em sua sala para uma conversa. Falou do tratamento que o idoso recebia em sua casa, do lazer, da alimentação. Esclareceu todos os pormenores e deixou-a à vontade para conhecer a casa e depois resolver. E assim com a sua permissão, em 08 de agosto de 2014, dia do seu aniversário, a hospedamos nesse lar abençoado por Deus. Levamos um bolo confeitado, refrigerantes para comemorar o seu aniversário e a acolhida na casa. No início, estranhou a morada. Um dos motivos era porque gostava de passear, de andar sozinha nas ruas, igrejas e em uma dessas vezes foi atropelada. Lá na casa seria diferente, só podia sair acompanhada de alguém ou com a nossa autorização. Durante este período de mais de três fez amizades, e mesmo sendo chamada para almoçar em nossa casa, achava melhor ficar na casa com seus amigos. Muito bem tratada por Neuda, uma criatura de Deus maravilhosa que cuida e ajuda no que é possível na Casa ao lado do Irmão Bernardo e de Tomás, o enfermeiro e cuidador, que a auxiliava no horário dos seus medicamentos e quando surgia alguma necessidade extra. Sempre a visitávamos aos sábados quando assistíamos a missa juntos.  O importante de tudo isso é que ela foi feliz enquanto viveu, à sua maneira. 
Somos gratos aos familiares e amigos que estiveram presentes na vida de Maria, e às equipes médicas do Hospital de Fraturas, Clínica São José e Hospital do Coração que sempre nos atenderam com presteza e competência nos atendimentos feitos a Maria nos momentos de hospitalização. 
Maria, Deus é testemunha de que fizemos o que foi possível por você, e não poderia ser diferente para quem se dedicou e amou demasiadamente a família Marques. Muito obrigada, Maria. Que Deus lhe proporcione uma grande acolhida. No cemitério Anjo da Guarda você vai se encontrar com Seu Zeca e Dona Maria, e lá, todos juntos no jazigo da Família estão à disposição da vontade de  Deus, gozando as venturas do Reino Eterno, onde estão as almas bondosas. Descanse em paz!   
Tereza Neuma     
Memória fotográfica 














quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Mulheres que se destacam em suas aptidões

Dia de São Vicente de Paulo, 27 de setembro e também se comemora o Dia do Idoso. Reverencio neste dia pessoas maduras e que são exemplos para todos nós.

Cada pessoa traz consigo dons oferecidos por Deus que costumo chamar de dons preciosos. Estes dons preciosos nem sempre são bem aproveitados, sendo muitas vezes desperdiçados. Entretanto, os exemplos colocados a seguir demonstram como estas três pessoas, mulheres dinâmicas e vontadosas souberam aproveitar e usufruir das suas habilidades. 

Um exemplo que merece admiração é o de dona Salette Cruz, mulher virtuosa, temente a Deus e que traz consigo a bondade que espalha entre os irmãos. Foi aluna do Colégio das Doroteias em Fortaleza. Estudou em Salvador por um tempo e voltou para sua terra natal. Passou a estudar, então, no Colégio Santa Teresa, em Crato, não chegando a concluir seus estudos para casar-se com seu Leandro Bezerra. No Colégio Santa Teresa aprendeu nas aulas de Artes Manuais a arte do bordado a mão, saboreando esta habilidade que aprendeu e desenvolveu com muito capricho, servindo de orgulho para suas professoras. O seu vigor e entusiasmo a deixam rejuvenescida ao praticar a arte que tão bem sabe fazer, usando suas preciosas mãos que transformam riscos e rabiscos de flores, de ramagens em lindas peças bordadas.  Motivo de sobra tem para ser uma pessoa sempre alegre e feliz, demonstrando a todos que sente um grande prazer em viver. O seu tempo não é ocioso, ela o ocupa bordando toalhinhas de bandeja para presentear familiares e amigos. Seu filho, Dr. José Arnon quando Deputado Federal, levava em sua bagagem muitas sacolas com embalagens exclusivas para presentear as esposas dos políticos em Brasília. E dona Salette não perde tempo, é sempre produzindo, apesar do tempo de sua existência já vivido, este mês completou 90 anos. É uma riqueza maravilhosa de Deus chegar a esta idade com disposição, lucidez e ainda mais, com vontade de praticar sua arte com tanto amor fazendo o que lhe dar prazer. É um desafio para os jovens este modelo de mulher, mãe, avó, bisavó que não se acomodou e que vislumbra e acompanha com muita sabedoria as grandezas encontradas no seu caminho semeadas por Deus.



Dona Enedina Damasceno Martins, moradora da Rua São Francisco, próxima do extinto Ginásio Municipal Antônio Xavier de Oliveira. Senhora modesta, avessa a badalações e exposições, a bem da verdade mulher excessivamente recatada. Descobri-a por acaso. Sua irmã, Irenilce amiga nossa, nora de dona Maria de Beato, veio à nossa casa em busca do livro da Praça Padre Cícero, antes mesmo do lançamento. Estranho, não é? Antes mesmo de ser exposto à venda. O motivo muito justo para esta irmã que faz o possível para atender ao pedido de sua irmã que é motivo de orgulho para todos da família: o seu gosto e hábito pela leitura. Hábito que nos dias atuais é praticamente impossível de encontrar. Ler, absorver, interpretar e apreciar são hábitos louváveis e precisam ser divulgados. Dona Enedina, com a idade de 83 anos, se deleita com os livros. Fiquei bastante curiosa para conhecê-la, mas fui logo informada por Irenilce que ela não gostava de aparecer, pois é muito reservada. Mesmo assim, sabendo que poderia receber um não, fui até a sua casa. Fui recebida por sua filha com muita distinção e fiquei aguardando que ela se apresentasse. Ela chegou timidamente, apertou minha mão e disse: “Foi Irenilce que lhe falou que gosto de ler, mas é só pra mim, não sou de muitas palavras e nem dou entrevistas”, disse com  tom bem categórico. 
Respondi: Fui informada sim, acontece dona Enedina, que desejei conhecê-la, a senhora é uma joia rara, principalmente na sua idade. 
Ela foi acessível e falou que desde a tenra idade gostava de folhear livros. A primeira escolinha que frequentou foi o Grupo Escolar Padre Cícero e, que no período da tarde, horário em que estudou, recebia o nome de Associados. Aos poucos, contou-me esta deliciosa tendência que possui de viajar com as leituras até às 3 horas da madrugada, hora do silêncio, quando não se ouve ruído, grito, choro, buzinas, carros de som, fogos. E continuou: Tenho a minha cadeira, a lâmpada adequada, o relógio que de longe mesmo observo a hora para me deitar. Tenho um zelo especial por minha biblioteca, cuido bem dos meus livros e se por acaso empresto algum, fico cobrando que seja logo devolvido. Minha grande riqueza e satisfação e que preenche os meus dias é quando me debruço sobre a leitura de um livro, não tenho enfado. 
Já bem entrosada comigo, levou-me até um espelho muito antigo, que pertenceu aos seus pais e me disse que todo ano no Dia da Renovação do Coração de Jesus, na casa dos seus pais, os pregos da moldura eram trocados, seguindo uma tradição e só quem podia mudar eram pessoas do sexo masculino, e dentro se costumava colocar um jornal da época. Ela falou que houve uma gincana num colégio, ela não lembra qual, que pedia um jornal antigo e os alunos foram procurá-la, pedindo emprestado o jornal e nessa tarefa os alunos ganharam. 
Dona Enedita desejo-lhe muitas e muitas viagens, muitos passeios pelo mundo da escrita.





Francisquinha Gonçalves de Menezes, sobrinha de dona Assunção Gonçalves, morava no sítio e todos os dias vinha para a escola, que não era muito distante. Mas, na época invernosa, a dificuldade muito grande de passagem para chegar à escola, recebeu o convite da tia para ficar hospedada em sua casa. No início, ficava um tempo e depois voltava para o sítio. E foi assim a peleja por algum tempo. Depois decidiu ficar definitivamente, constituindo uma grande amizade e parceria entre as duas. Dona Assunção a chamava carinhosamente de Chica, de Fuca, Fuquinha, apelido que até hoje é tratado pelos sobrinhos. Na companhia de sua tia aprendeu muitas técnicas. A primeira que desabrochou foi a de bordar a mão. Bordava toalha de mesa, colcha de cama, lençol de vira e rede. Muito apreciado, o seu trabalho conquistou uma boa clientela. As famílias da redondeza faziam questão de presentear filhas, amigas com peças bordadas por ela. Investiu em outra faceta: o gosto pela pintura, observando a sua tia pintar. Muito habilidosa, aprendeu rápido essa outra técnica e recebeu encomendas de colchas em organdi pintadas. Foi um sucesso. E haja tempo para pintar. Usufruindo da ótima companhia da tia e dos seus santinhos de estimação, que colocava junto da mesa para apreciarem seu trabalho. Encomendas e mais encomendas chegavam. Até hoje ela lembra das pessoas que compraram suas peças e algumas ainda as têm guardadas. Francisquinha, achou pouco e sugeriu para a tia que investissem na preparação e feitura de bolos confeitados ornamentais. A fama tomou conta da região e muitas pessoas vinham de fora para fazer encomendas de bolo de 15 anos, de casamentos, de aniversário, de 1ª comunhão. Quando se anunciava que na festa de alguém o bolo saía da casa de dona Assunção amigos mais chegados e até pessoas estranhas faziam questão de olhar a preciosidade feita pelas quatro mãos. A exclamação geral: lindo, divino, perfeito! Incontáveis bolos confeitados foram feitos e fotografados. Os tempos mudaram e o encanto dos bolos passou. O glamour, o charme das duas em confeccionar bolos magníficos com a idade foi diminuindo, dando lugar a coisas menos trabalhosas. Atualmente, Francisquinha lida com a pintura em toalhas de banho, toalhas de bandeja e panos de prato. Uma grande artista em várias artes. Que Deus lhe ilumine e lhe ofereça muitas encomendas na arte que focaliza muito bem o seu viver. A arte de fazer amigos, e de colocar em seus trabalhos as alegrias de Deus, as flores, as rosas. Bom proveito de suas obras!