domingo, 7 de julho de 2013

Pessoas de Juazeiro que fazem parte do meu acervo de lembranças

Moura e o quadro com sua caricatura
José Moura, ou simplesmente seu Moura, alfaiate famoso, costurava para as pessoas da alta sociedade. As encomendas de ternos, calças, camisas eram disputadíssimas, necessário se fazia que agendasse, para não incorrer em falta, pois não fazia parte do seu caráter o não cumprimento dos prazos estabelecidos. Morou por muitos anos na Rua Santa Luzia, 101, próximo do Pronto Socorro. Pessoa de um humor formidável, por isso gozava de um vasto número de amigos. Indaguei para sua neta, Ivana, o que provocou a lesão na perna dele, pois lembro dele puxando uma perna, ela falou que ele muito jovem foi atropelado por um bonde em Fortaleza e por esse motivo usava uma perna mecânica. Recordo de seu Moura com uma fita métrica no pescoço, na primeira sala da casa, cortando os tecidos numa mesa muito alta transformando-os em peças de corte perfeito, presenciava isso nas minhas idas para visitar o jazigo de meu pai, no Cemitério do Socorro ou para participar da missa na Capela do Socorro. Quando passava notava pregado na parede um quadro com sua caricatura, Ivana sua neta guardou-o com muito carinho e permitiu-me que fotografasse. Os familiares de sua esposa e os seus, todos radicados em Fortaleza, foi esse o motivo que o fez se mudar para lá a pedido de sua esposa. Instalou-se na Rua Major Facundo, abrindo sua alfaiataria. Exerceu a profissão por mais alguns anos e teve alguns aprendizes, um deles destacou-se como alfaiate e interessou-se em adquirir a sua coletânea de moldes em papel italiano. Faleceu em Fortaleza em fevereiro de 1999, aos 91 anos de idade.

Domingos Frutuoso Gino, seu Gino, um dos primeiros comerciantes a negociar no ramo de fotografia. Em conversa com seu filho, Lindovaldo, ele contou que seu pai trabalhou em Várzea Alegre como fotógrafo ambulante ou como se costuma chamar de fotógrafo lambe-lambe. Resolveu fixar residência em Juazeiro e para isso precisava decidir o que fazer. Abriu um comércio de cereais, entretanto não teve o impulso que esperava. Aconselhado por amigos que sabiam do seu conhecimento com fotografias, colocou fé nessa empreitada e se instalou  em um box no Mercado Público, com material fotográfico e fotos. No início o material fotográfico seu Gino o adquiria na Casa Rosada, que vendia produtos importados para fotografia. O negócio prosperou tanto que vendeu o box e comprou um prédio na Rua São Paulo, 623 instalando com mais comodidade a sua loja, no sentido de melhor atender os seus inúmeros clientes. Passou, então, a comprar filmes da Agfa, Fujifilm, Kodak, tornando-se o maior fornecedor de materiais fotográficos de Juazeiro do Norte. Os fotógrafos não tinham dificuldade para exercer a sua profissão, pois tudo que precisavam não tinham dúvida, o endereço certo era a Casa Gino. Homem sério, honesto, gostava de ajudar os amigos quando dele necessitavam. Como foi o caso de José Francisco dos Santos (Zezito), proprietário do Foto São José, pai de Francisquinho, um dos mais conhecidos cantores de músicas religiosas de nossa cidade. Seu Gino faleceu aos 88 anos de idade.
Casa Gino agora sob a direção de Lindovaldo
Uma breve informação sobre o fotógrafo lambe-lambe, sua máquina é utilizada para tirar fotografias e serve também para mostruário. Suas laterais são cobertas de fotos. Todo fotógrafo lambe-lambe estende próximo à máquina uma cordinha onde coloca as fotos para secar. Num balde de plástico contendo água limpa, ele lava as fotos quando retiradas do fixador e revelador. Uma tesoura é essencial para separar as fotografias e acertar o tamanho a gosto do freguês. Há ainda um paletó e uma gravata para serem emprestados às pessoas que não dispõem dessas peças.

Dudu e sua vespa
Dudu das bicicletas, ou Raimundo Martins, morou por um bom período na Região Norte, e sua profissão nessa época era motorista. Resolveu voltar para sua terra, Juazeiro, e aqui instalou-se na Rua da Conceição,  em frente a Praça do Socorro consertando bicicletas. Meus filhos, Michel e Daniel Junior foram seus fregueses quando as bicicletas furavam o pneu, pois todo final de semana eles iam dormir na casa dos avós paternos, e iam de bicicleta. A casa de seu Zeca muito próxima da oficina, não tinham dúvida corriam para Dudu para remendar o pneu, e depois brincar na Praça do Cinquentenário. Na minha conversa com Dudu falei que os meus filhos consertaram por muito tempo as bicicletas com ele, e que Michel com menos de dois anos tirou uma foto segurando sua vespa que ficava debaixo dos pés de algaroba na praça para não levar sol. Ele falou que a vespa ainda existe e está guardada na casa de sua mãe na Rua São Vicente, fui até lá e a fotografei. Fiquei admirada quando Dudu disse que está neste prédio há quarenta e nove anos e continua alegrando as crianças e os adultos quando conserta a bicicleta e é o que gosta de fazer e o faz com muito prazer. Casado, pai de seis filhos todos casados e equilibrados financeiramente.
Dona Zaíra e seu jardim

Zaíra Cruz Lemos, esposa de seu Antônio Agostinho, próspero comerciante que se destacou no ramo de ourivesaria. Dona Zaíra pessoa dócil, afetuosa e muito educada, aliou esses predicados ao seu desvelo e cuidados com o seu jardim. Quando morou na Rua Santa Cecília, em terreno muito extenso, aproveitou a área e cultivou durante anos, sorriso de Maria, dálias, margaridas, rosas e as famosas hortênsias, que só ela as possuía. Conheci dona Zaíra quando papai faleceu e comecei a ir até sua casa para comprar flores para colocar no seu túmulo. Apesar de ser uma garota nessa época, muito encabulada, me sentia bem na sua presença. Ela puxava conversa comigo e perguntava sempre por minha mãe. As flores que costumava comprar eram sorriso de Maria e rosas nas datas principais, como dia do aniversário, dia dos pais e de finados. Nessas épocas, principalmente Finados, as suas flores eram muito solicitadas. Aqui em Juazeiro não havia flores com abundância como temos hoje. Floriculturas não existiam. Contávamos somente com dona Zaíra e dona Radir, no Salgadinho. Para não ficar sem flores, telefonava com antecedência, pedindo que ela as guardasse para mim. E logo cedo estava em sua casa, ela toda prontinha, com a tesoura em punho se dirigia para os canteiros para escolher o que eu queria. Por muitos e muitos anos percorri esse caminho buscando a cultivadora de flores, dona Zaíra, que se costuma dizer para as pessoas que cuidam de flores que elas têm sempre as mãos perfumadas e que as abelhas ficam lhe rodeando como se estivessem agradecendo por as flores semeadas que lhe darão o néctar que se transformarão em mel. Em minha memória guardo com muita nitidez os canteiros abarrotados de hortênsias de várias tonalidades logo na entrada da casa. Que belíssimas flores. Dizem que a coloração depende do tipo de solo que elas são plantadas. A dona Zaíra, a bela das flores, a minha admiração por ter cultivado por muitos anos o que Deus nos proporcionou - a beleza imensurável das flores. 

E-MAILS RECEBIDOS      
O texto sobre a Arte de envelhecer tão íntimo e sincero diz muita verdade sobre a angústia do ser humano perante o envelhecimento. Numa sociedade como a nossa que valoriza o novo,torna-se ainda mais difícil enfrentar com serenidade o processo do envelhecimento.Simone de Beauvoir diz, em seu livro A velhice "são os outros que reconhecem a nossa velhice".
O coração,as ideias,e os sonhos não envelhecem.
Recomendo o FILME maravilhoso capaz de transformar e inspirar qualquer matrona sessentona-"Ensina-me a Viver."
Parabenizo mais uma vez a escritora pelo brilhante texto,pela profundidade do tema e a maneira sensível e elegante como o transmitiu! 
Sávia Ferraz, Fortaleza

Olá, Tereza Neuma!
Tenho visitado com frequência o Portal de Juazeiro porque encontro tudo que procuro, (passado e presente) sobre nossa querida cidade. Começo olhando a página do professor Daniel, depois visita a sua coluna e finalizo dando uma passadinha na coluna do Renato Casimiro.
 Hoje quero te agradecer em especial pelo lindo texto “A arte de envelhecer”. Que bela lição! Assim como você, também não concordo com a nova nomenclatura: “melhor idade”, no entanto, quando atingirmos o cume, vamos fazer a nossa descida com elegância, de mãos dadas com a esperança e a fé, pois elas são as maiores incentivadoras para que continuemos sonhando, planejando e realizando. Tenho um grande exemplo dentro de casa: Minha mãe com 84 anos, lúcida, ativa e totalmente independente. Costuma dizer que só se lembra que está velha, quando fica diante de um espelho.
Vamos sorrir porque a vida é bela! 
Forte abraço.
Simone Bezerra, Fortaleza, Ceará

Simone: Que beleza de exemplo sua mãe nos transmite, que continue sempre  com esta jovialidade a conduzi-la. 
  Tereza Neuma 

Parabéns por resgatar memórias do Juazeiro. Sou filho de Edésio Carvalho, Ricardo. Meu pai trabalhou com meu avô e depois abriu a farmácia central na rua Alencar Peixoto. O endereço da casa do meu avô era rua Padre Cícero 476. Abraços.