sexta-feira, 30 de outubro de 2015

65 anos, um tempão que já vivi
Nasci em Juazeiro do Norte, no ano de 1950, na residência do meu avô paterno, localizada na Rua do Salgadinho, atualmente chamada de Leandro Bezerra. Ao longo dessa existência vi e participei de muita coisa muitas das quais passo a relatar e relembrar:
- Tive uma infância cheia de brincadeiras com os meus irmãos e com os meus primos. Lembro-me dos invernos que tínhamos antigamente, eram chuva pra valer mesmo, as ruas ficavam alagadas. Tomar banho e correr na chuva, a roupa colando no corpo, a tremedeira e as mãos roxas de tanto ficar na chuva, era uma diversão maravilhosa. Hoje, o inverno está difícil, as crianças desta nova época não convivem com a quadra invernosa que já existiu. Não têm oportunidade de se deleitar com esta brincadeira que tanto nos alegrava.
- O Rio Salgadinho cheio, limpinho, sem sujeira, olhando de cima da ponte dava até para enxergar o montão de pedrinhas que juntava no leito do rio. Esta visão de rio caudaloso, de água deslizando nas pedras, com água azulada carregando os troncos de bananeira, os peixes nadando, que beleza de cenário, por aqui não é mais possível de se encontrar. O que vemos é o rio seco e imundo. A visão da nova realidade.
- Nas matinais ou vesperais do domingo existiram programas de auditório em nossa cidade promovidos pela Rádio Iracema e Rádio Progresso, com os apresentadores José Brasileiro e Alceli Sobreira, premiavam com brindes os participantes. Os locais dos programas, Treze Atlético Juazeirense e Cine Plaza. Participei muitas vezes e até ganhei alguns prêmios.
- Viagem de trem para Fortaleza apesar de cansativa era uma aventura para meninos veios do interior. E quando parava em Baturité os vendedores ambulantes corriam a oferecer sacolas com tangerina, as cestinhas com uvas roxinhas, as pencas de banana, laranja do maciço de Baturité (que delícia!), doces que só mel. 
- O Instituto Gonzaga na Lagoa Seca, dirigido por padres jesuítas, trouxe muitos jovens de outras regiões, ensino de primeira e com muita disciplina. Passou depois a funcionar o Hospital Santo Inácio, vindo a fechar suas portas no ano de 2012. No local breve surgirá um destes prédios enormes e ficará em nós somente a lembrança. 
- O Ginásio Domingos Sávio fundado e dirigido pela professora Zuíla e Silva Morais. Das festas juninas, dos almoços dominicais, dos bingos para arrecadar fundos para a construção de uma sede mais ampla e moderna que comportasse o número de alunos que a cada dia aumentava. Passou a ser chamado no novo prédio, Colégio Menezes Pimentel. Hoje, nesse local funciona o Restaurante Popular.
- A Escola Técnica de Comércio de Juazeiro formou muitos contadores, já não existe mais. Aconteceu o mesmo fato com a Escola Técnica de Comércio Dr. Diniz, com a sua famosa fanfarra, desfilando garbosamente no dia 7 de setembro. Que pena! 

- O Ginásio Mons. Macêdo (antes Instituto Santa Teresinha), localizado na Av. Dr. Floro com Rua Padre Cícero, com uma imagem de Santa Teresinha na esquina entre as duas ruas. Dirigido pelas Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado. Disciplina rígida, currículo excelente e professores eficientes. Fui aluna desta Unidade de Ensino durante 7 anos.  Conquistei muitas amigas nesse período, por algum tempo continuamos nos comunicando. Porém, procuraram novos rumos em suas vidas, novas cidades e por lá faleceram, como: Glória Lopes, Marleide Cabral, Jane Menezes, Querubina Bringel (Bibi). Que nessa morada tenham sido recebidas por Deus.
- Medito um pouco e vem à lembrança a professora de música, mais precisamente de piano, dona Raimunda Mamede. Professora exigente, mas que se deleitava ao ouvir as notas musicais dedilhadas por seus alunos. Uma coisa que não admitia dos alunos a displicência. O aluno que não prestava  a atenção devida e errava, era tiro e queda: a régua nos dedinhos era tirana. Outra professora rigorosa, dona Toinha, mestra no ensino primário. Voz grossa, rosto sério, quando o aluno cometia algum erro pegava sua palmatória de madeira, e estalava os bolos nas mãos. Remédio muito eficiente, pois surtia logo bom resultado. O aluno aprendia mesmo. Por sinal fui sua aluna.
- Remédios que costumávamos usar: Leite de Magnésia, Óleo de Rícino, Regulador Xavier 1 e 2, Biotônico Fontoura, Columbiazol para ferimentos. Postafen para engordar, Fosfocalcinaiodada  e muitos mais, que já não fazem parte do receituário das novas gerações.
- A Feirinha da noite em nossa cidade, localizada na Rua da Conceição com Rua São Pedro. Velhinhas com saias longas, não muito largas e com um lenço na cabeça, trajes típicos saíam de suas casas no fim da tarde com uma banquinha de madeira, uma toalha estampada para forrar e as guloseimas enrolados num pano. Amendoim torrado, rolete de cana, cocada, milho cozido etc. Convivemos com essa preciosidade que fez parte da geração dos anos 60 e até 70. Não ficou nem uma fotografia, o que nos resta é contar através da escrita.
- Um objeto que gostava demais de usar, os tamancos de madeira, comprava-os nas feiras livres nos dias de sábado. Experimentava no calçamento mesmo, não sujava e dando certo, era embrulhado num pedaço de papel ou jornal. Sacolas de plástico não existiam. Parece que escuto o som que saía quando andava:  toc, toc, toc...
- Evoco nas minhas lembranças, o mini zoológico que existia na casa dos meus pais quando éramos crianças. O casal de araras azul e amarela, o papagaio, casal de marrecos, patos, galinhas, gato maracajá, pássaros de várias espécies. Que hoje, devido o abuso excessivo em contrabandear  e o desmatamento das florestas afugentou os animais e aves obrigando as autoridades a tomar medidas sérias proibindo extensivamente a caça, porque a maior parte das aves estão em extinção e não podem mais ser criadas em cativeiro.
- Assisti ao funeral de padre Francisco na Igreja do Sagrado Coração de Jesus e é lá que ele está sepultado. Uma multidão esteve presente à missa de corpo presente, inclusive muita gente que gozara de sua amizade chorava.
- O filme A Noviça Rebelde, empolgou o público brasileiro ao entrar em cartaz em 1965. E os excursionistas do Ginásio Mons. Macêdo tiveram o privilégio de assisti-lo no Cine São Luiz no Rio de Janeiro, marcamos presença. Filme lindo! Outro filme que me contagiou de emoção e o vi muitas vezes, Dio come te amo, de Gigliola Cinquetti. Final dos anos 60 e 70, filme em preto e branco, mas as gerações dessas décadas se apaixonaram por ele.
- Estive presente na inauguração da nova Igreja da Paróquia do Sagrado Coração, em 1975, este ano completou 40 anos. O baluarte da construção foi Padre Nestor Sampaio. Outra imponente inauguração que também marquei presença foi a do monumento do Padre Cícero na Colina do Horto, em novembro de 1969, obra do prefeito Dr. Mauro Sampaio e também do Estádio Municipal José Mauro Castelo Branco Sampaio, O Romeirão, em



- Na administração de Dr. Salviano assisti à inauguração do Memorial Padre Cícero, obra de muita importância para a nossa cidade homenageando o nosso fundador Padre Cícero. Foi entregue à população outra obra o Ginásio Poliesportivo, pelo mesmo prefeito..
- O pavor que suscitou na população brasileira o surto de meningite que surgiu em nosso país na década de 70. O Governo se empenhou na busca de vacinas em outros países para dar vencimento ao número de pessoas que procuravam a vacina nos postos de saúde. Entretanto, apesar dos esforços, muita gente morreu dessa moléstia, o tempo inábil e a doença muito rápida e traiçoeira. Em nossa cidade pessoas jovens foram ceifadas. 
- No início do mês de outubro de 1974 aconteceu um desmoronamento na igreja matriz de Nossa Senhora das Dores. Uma das colunas que sustentava o teto, construída pelo Padre Cícero,  desabou, mas felizmente não teve vítimas fatais porque foi num horário da manhã de pouca frequência de fiéis. Em setembro do ano seguinte aconteceu à comemoração do seu centenário com a inauguração da reforma e lá estive.
- A chegada dos primeiros astronautas à lua. O mundo parou para assistir através da televisão a imagem em preto e branco dos astronautas descendo do foguete e pisando no chão. Emoção, incredulidade, foi a reação estampada em todos os rostos que assistiam.
- Nossa cidade tremeu quando passou numa altura não muito propícia para a sua potência um avião supersônico deixando a população apavorada, principalmente pelo estrago que causou na loja A Pernambucana, a loja toda envidraçada. Os vidros foram ao chão provocado pelo barulho ensurdecedor que as turbinas do avião emitiam.
- Exposição Fotográfica de Juazeiro Antigo, ideia genial de alguns jovens da época (Daniel Walker, Renato Casimiro e José Carlos Pimentel) realizada no Edifício Dom Pires, gentilmente cedido pelo pároco Pe. Mutilo de Sá Barreto. As fotos em tamanho 20x30cm, em preto e branco,  foram expostas em tripés de madeira e estampavam a história do Juazeiro Antigo. 
- Inauguração de três escolas públicas estaduais no governo do Cel. Adauto Bezerra, no ano de 1976. Escola de 1º Grau Dona Maria Amélia Bezerra, localizada na Av. Castelo Branco com Rua São Benedito, em 24 de março de 1976. Nesta escola ocupei o cargo de vice-diretora durante 19 anos. Escola de 1º e 2º Graus Cel. Adauto Bezerra, localizada na Av. Castelo Branco, esquina com Rua José Marrocos e a Escola de 1º e 2º Graus Presidente Geisel, Escola Polivalente, localizada na Rua José Marrocos, esquina com Av. Castelo Branco.
- Vi a construção e a inauguração do primeiro conjunto de casas em estilo moderno, no local que antes funcionou o campo de futebol de nossa cidade, LDJ, na Rua da Conceição com Rua do Cruzeiro. Recebeu a bela denominação de Vila Rica construída pela Construtora Raimundo Coelho, líder no mercado imobiliário naquela época.
- Os jovens de hoje ainda podem apreciar a bela construção localizada na Av. Dr. Floro com Rua Isabel da Luz, imediações do Edifício Dom Pires. Nesse prédio funcionou o Samdu, um posto de saúde de primeiros socorros. Passou depois a funcionar como a casa do vigário da Matriz de Nossa Senhora das Dores, Mons. Lima. Depois, nova mudança, Escola Menino Jesus, de propriedade da profª Socorro Maia. Funcionou novamente como residência e hoje abriga a Pousada Nossa Senhora da Conceição, hospedando romeiros.
- Vi a nossa cidade de Juazeiro parar com a trágica notícia da morte do empresário Felipe Neri da Silva ocorrida em um acidente de aviação nas águas da Guanabara, Rio de Janeiro em 24 de junho de 1960. O casarão da Rua Pe. Cícero, sua residência,  se tornou pequeno para receber as pessoas que desejavam se despedir de uma pessoa muito simples, íntegra, educada e do bem. Ficou na minha memória a tristeza provocada nas pessoas e o espanto de como não queriam acreditar!  

Caros leitores, apresentei para vocês um relato de fatos e acontecimentos que fazem parte de nossa história e que de alguma forma participei. É uma forma de deixar registrado na memória e para conhecimento das novas gerações. Fiquem a vontade para expor fatos que presenciaram e que de alguma forma se tornaram importantes..
Bom final de semana e um bom feriado. Fiquem com Deus.