domingo, 29 de dezembro de 2013

O Legado deixado pela professora Eunice Arraes

Quinta-feira, dia 26, recebi um telefonema no final da manhã da amiga Fátima Arraes comunicando o falecimento da professora e amiga dona Eunice Arraes. Surpresa, espanto, desolação e tristeza se apossaram de mim. Na antevéspera do natal liguei para ela para lhe desejar um Feliz Natal. Notei em sua voz um pouco de cansaço, mas jamais imaginei que o seu falecimento aconteceria três dias depois. Ah! Dona Eunice como a admirava e a amava. O seu jeito dócil, sua fala pausada e baixa. E uma característica que fazia parte de sua personalidade: o gesto nobre de presentear os amigos. Quantos presentes recebemos, Daniel e eu. Os doces de banana, de maçã; as bijus que me presenteava e dizia sorrindo, “que eram a minha cara”. As toalhinhas de bandeja com crochê, lindíssimas. E o calendário de folhinhas da Editora Vozes com versos seus que foram selecionados. Porém o presente mais valioso foi o livro  contando a história da nossa vida em versos. Quando fomos à sua casa no dia 23 de março de 2011 para lhe felicitar pelo seu natalício a senhora nos recebeu cheia de felicidade. Com a alegria estampada em seu rosto foi logo nos dizendo: “que honra recebê-los hoje!” Respondi imediatamente: “não podíamos deixar de vir lhe abraçar no dia especial do seu aniversário. O dia de agradecer a Deus pelo dom da vida”. Ela riu com aquele sorriso matreiro, com um olhinho mais baixo que o outro e respondeu: “logo cedo acordei dando graças a Deus por minha vida. É  maravilho viver”. Entregamos-lhe os presentes. Fiz um mimo do Divino Espírito Santo e lhe presenteei dizendo: “foi feito por mim”. Ela agradeceu e disse: “vou colocar aqui nesta porta”. Realmente o colocou de imediato. Quando estive em sua casa no dia do seu velório, ele estava lá, pregadinho no mesmo lugar. Demoramos um bom tempo, colocando o papo em dia. Uma conversa de amigos verdadeiros. Não aguentando mais esperar, soltei sem preâmbulos a proposta que tínhamos para fazer-lhe. “Dona Eunice (sempre a chamei assim porque ela foi minha professora particular e não consegui perder o hábito), queremos lhe fazer um convite e nos sentiremos felizes com a sua resposta positiva. Trata-se de um livrinho para comemorar as nossas Bodas de Rubi, quarenta anos de uma união feliz contada em versos e a pessoa escolhida para fazê-lo foi a senhora”. Ela ficou emocionada, notamos em seu semblante espanto e um certo envaidecimento, mas nos respondeu calmamente: “vocês acham que tenho capacidade para atender este pedido?” Respondemos unânimes: “Com certeza, é a pessoal ideal”. Explicamos que queríamos que se baseasse no meu livro, Neuma uma mulher de fibra e de fé, que Daniel escreveu e me presenteou quando completei 60 anos. A resposta não foi dada imediatamente, pediu um tempo para degustar a ideia. Saímos confiantes que a resposta seria positiva. Após alguns dias nos ligou informando que aceitaria o desafio. Demos um prazo de quase um ano, pois a comemoração aconteceria somente em 9 de fevereiro de 2012, prazo suficiente para fazer sem nenhum vexame. No meado do mês de maio nos ligou avisando que tinha concluído o nosso livro, a nossa história. Não resistimos e fomos logo à sua casa, já estava nos esperando porque avisamos antes que iríamos. Muito organizada, como sempre, nos entregou numa pasta o manuscrito. Ah! quando li as primeiras estrofes as lágrimas deslizaram dos meus olhos, pois  estava diante de um sonho realizado, a concretização daquilo que imaginei. Com o manuscrito em mãos, dei início à digitação para encaminhar à gráfica. Quando concluí, Daniel levou para que ela fizesse uma revisão final,  e poucos dias depois devolveu. Guardamos com muito carinho, dentro de um baú até que chegasse o momento certo para levar para a gráfica. Estávamos no mês de junho, ela foi muita rápida para compor a nossa história. Minha sogra adoeceu no mês de agosto; muitas idas e vindas para médicos, hospitais, assistência integral a ela, entretanto o livrinho foi impresso em nossa casa para ver como ficaria e o guardamos, aguardando o momento de levar para a gráfica. Ei dona Eunice guardamos segredo, não queríamos que visse antes do evento, pois queríamos fazer-lhe uma surpresa. Recebemos da gráfica no dia 27 de janeiro de 2012, tempo suficiente para preparar os envelopes e enviar pelos Correios e outros para entregar pessoalmente. Dona Maria, minha sogra,  piorava a cada dia, mas teve o prazer de ver a nossa história impressa e como não estava em condições de ler, li para ela. No dia 9 de fevereiro de 2012, às 9 h, assistimos à missa  em ação de graças pelos 40 anos de nosso matrimônio, uma união perfeita na Basílica de Nossa Senhora as Dores, mesmo local onde nos casamos.  Lilia Boaventura, como Ministra da Eucaristia, comunicou para o celebrante, padre Monteiro, e ele mencionou no momento da leitura das preces a alegria e júbilo deste momento tão especial. Saímos da igreja e fomos até a sua casa para entregar cinquenta exemplares do seu primoroso trabalho. Gostou do formato, da capa e brincou conosco dizendo: “agora estou famosa com este opúsculo que fiz para vocês provando a minha amizade verdadeira e o carinho especial que dedico a vocês!” Ficamos orgulhosos de suas palavras sinceras. Foi dessa forma, apreciadores desta Coluna, a afeição e a convivência que desfrutamos com essa pessoa maravilhosa, a professora Eunice, e que Deus em sua infinita bondade lhe poupou de sofrimentos levando-a como um sopro ao convívio com o Pai e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Segue abaixo a história de nossa vida conjugal escrita pelas mãos angelicais de dona Eunice, manuscrito que guardo como relíquia.  









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