Quando criança, sempre que precisava ir ao dentista para algum tratamento, ficava apavorada e acho que isso é comum em toda criança, pelo menos antigamente. O medo, o pavor dos aparelhos, do alicate, da seringa com o anestésico era uma verdadeira aflição. Foi assim que aconteceu comigo e com meus irmãos. Um medicamento que nunca faltou na farmácia da nossa casa era Cálcio, e por sinal tomamos exageradamente, devido o cuidado que mamãe tinha conosco e exagerou na dose. Esse foi o motivo (segundo mamãe dizia) que acarretou a fragilidade de nossos dentes, e a cárie aproveitava para se instalar neles. Dos nossos dentes de leite a maior parte foi extraída por titio Valdo, que tinha já pronta uma pinça a nos esperar. Já um pouco maiorzinhos, com mais coragem, colocávamos um pedaço de linha zero, uma linha grossa, que não quebrava, e como fazíamos? Colocávamos no dente que estava mole e dávamos uma laçada e puxava. Quando não saía logo, ficava sangrando e Munda (a irmã adotiva de mamãe) que morava em nossa casa e ajudava mamãe nas tarefas domésticas concluía a operação, isto é, retirava o dentinho. O nosso primeiro dentista foi Dr. Raimundo Tavares Neves. Lembro de sua figura, baixinho, vestido impecavelmente de branco, bata e calça tão bem passadas, que até tinham um ar de mistério, pois não ficavam amassadas; e sapatos brancos também. Seu consultório era localizado na Rua Conceição, próxima da casa de seu Sebastião Teixeira. Lembro que tinha um portãozinho, e tínhamos que abrir para entrarmos. O medo em mim já começava aí, as mãos gelavam e suavam. Levava um lencinho, necessário para limpar a boca, porque naquele tempo suponho não existia ainda o lencinho de papel, hoje comum em todo consultório. Dr. Raimundo muito cordial, brincava com a gente para que relaxássemos. Ai Deus! Quando lembro do motorzinho no dente ainda suo frio. Não posso negar que ia levada à força. É tanto que devido ao meu descuido e medo perdi vários dentes. Águas passadas. Frequentei também o consultório de Dr. Antônio Balbino, no Edifício M. Oliveira. A sala ficava no 1º andar. Era preciso subir uma escada, achava-a tenebrosa, pois não era muito bem iluminada. Tenho lembrança das mãos de Dr. Balbino, os dedos grossos e as unhas bem redondas. Nos advertia sempre que tivéssemos muito cuidado com os nossos dentes permanentes, porque perdendo-os não tinha mais como recuperá-los. Fiz tratamento com Dr. Geraldo Barbosa e algumas extrações e restaurações. Quando estava nos atendendo gostava de cantarolar. Muito amistoso. Seu consultório funcionava na Rua Padre Cícero, 314, vizinho à Farmácia dos Pobres, atualmente funciona na mesma rua, nº 275. Dr. Luiz Bezerra de Souza, o seu consultório, antes funcionou na Rua Pe. Cícero, 330; mudou-se depois para a São Francisco, próximo ao Hotel Municipal. Outros dentistas a quem recorri para tratamento, Dr. Edval Vieira Almeida, muito educado, recebia o cliente à porta, cumprimentava-o e mostrava a cadeira que devíamos sentar. Quando ele notava que eu estava muito ansiosa e o medo transparecia no meu semblante, calmamente pedia que relaxasse que logo, logo tudo terminava. Realmente me sentia mais aliviada e a tensão diminuía e o tratamento prosseguia. Seus passos cadenciados se locomovendo no seu consultório, numa demonstração de muito amor à profissão. Seu consultório ficava na Rua Pe. Cícero, 469 e posteriormente passou a ocupar uma sala no Edifício M. Oliveira, na Rua São Pedro, 573, 1º andar, s/112. Dr. José Leite Feitosa (conhecido como Dr. Zi), seu consultório sempre funcionou na Rua São Francisco, 427. Fiz tratamento de canal com ele. Sereno e calmo, muito habilidoso no trabalho que exercia. Dr. Queiroz, natural de Barbalha, pessoa boníssima, quis trabalhar em Juazeiro e instalou seu consultório no Edifício M. Oliveira, 1º andar. Eeu e meus irmãos íamos para o seu consultório, e quando sentávamos esperando a vez de sermos atendidos, ficávamos disputando no par ou ímpar, quem seria o próximo. O consultório de Dr. Pedro Bispo dos Santos, funcionou na Rua São Pedro, 934, e posteriormente na Rua Santo Antônio, 544, hoje Rua Pe. Pedro Ribeiro. Com o seu falecimento, sua esposa dona Maria Bispo deu continuidade ao seu trabalho. Dr. Sátiro, o consultório, localizava-se na Rua Pe. Cícero, entre a Rua Cloves Bevilaqua e a Rua da Aurora, hoje Radialista Edésio de Oliveira.
Como mudou! Naquela época tão poucos dentistas. E agora, o número de profissionais da odontologia cresceu muito, chegando a centenas. Uma das causas foi o aumento da população. Felizmente, hoje com a moderna tecnologia que investiu em equipamentos sofisticados, ir ao dentista, pelo menos para mim, não chega mais a causar o pavor de antigamente. Os consultórios aprazíveis e confortáveis têm concorrido para a procura mais acentuada dos clientes. E quem hoje não quer apresentar um sorriso bonito, com dentes bem cuidados e perfeitos? Saúdo os odontólogos pioneiros de minha cidade, pois enfrentaram obstáculos, porque tempos atrás a saúde bucal não era levada muito a sério, como hoje em que o próprio governo proporciona atendimento direto à população carente.
Doutores Edval, Balbino, Geraldo, Bispo e Luiz. |
Quando leio um artigo como este fico aqui pensando,COISA DE RICO,mas não era, era coisa de gente que tinha cuidado, frequentei todos eles,mesmo porque o Dr Balbino por tabela e amizade é quase primo,Dr Edival vizinho e o Dr Sátiro atendeu o Juazeiro todo. Agora o melhor dentista e todos frequentavam era -A LINHA ZERO-era infalível.Joguei uns cinco dentes no telhado lá de casa.
ResponderExcluirEntre nós os homens esta prática gerou muitas brigas, pois era colocado a linha zero e de supetão -os dentistas Ze´Balbino irmão do Dr Antonio Balbino,ou o Jorge Luiz irmão do Daniel puxavam sem avisar.Era briga certa, dez minutos depois só alegria,brincadeira e o aumento dos laços de amizade.
Por isso sempre falo-O SOCORRO NÃO ERA UM BAIRRO,ERA UMA FAMÍLIA.Neuma,Parabens. Passe o meu site para o Paulo.
http://www.iderval.blogspot.com
Obrigado por relembrar os pioneiros da classe odontológica em Juazeiro. Hoje o número aumentou e vai aumentar ainda mais com o quantidade exagerada de alunos da Faculdade Leão Sampaio. Nada contra o curso, pois traz inovações, novos profissionais e o atendimento ao público carente. Mas 200 alunos por turma vai acarretar um inchaço e trazer a má qualidade no atendimento.
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