Conheci Maria quando comecei a frequentar a casa de Daniel, como sua namorada. Ela para dona Maria era como se fosse da família. Chegou muito jovem para ajudar dona Maria nos cuidados com Jorge Luiz, o filho caçula que nasceu prematuro. E daí foi ficando, e conseguiu assumir outros afazeres domésticos. Não muito chegada à cozinha, o que fazia a pedido de dona Maria era o arroz. E olhe, algumas vezes deixava queimar. O que gostava de fazer mesmo era lavar os pratos, panelas e talheres, e enxugá-los, após o almoço. Domingo, dia de reunião da família, dona Maria preparava o almoço com muitas regalias e precisava de seu auxílio para cortar as batatas, para serem fritadas, especialidade da casa. Prato exigido sempre pelos convidados. Existiu entre dona Maria e Maria uma amizade muito grande, as duas se entendiam tão bem que faziam tudo para agradar cada uma a outra. Em certas ocasiões, dona Maria tomava o partido de Maria com relação a seu Zeca. A presença de Maria como guardiã dos meus filhos, Michel e Daniel Junior, foi imprescindível. Sempre solícita, atendia sempre ao meu chamado em momentos de necessidade. Na época em que cursava faculdade, ela acompanhada de minha sogra, dona Maria, iam para minha casa ficar com Michel quando bebê. Todo santo dia tinham esta penitência de 2ª a 6ª feira, de cuidar dele. Ainda bem que não foi por muito tempo, apenas um semestre. Mas, essa missão ela fazia com muito prazer. Brincava, acalentava e dava até para cochilar. Tempo de dificuldades para nós, sempre contamos com sua ajuda. Daniel Junior, o nosso segundo filho, ela costumava passear com ele, levava para procissões e não deixava de lhe dar as guloseimas como algodão doce, pipoca, bombom. No nascimento das minhas netas, fez questão de ir logo visitá-las na companhia de seu Zeca e de dona Maria. Sofreu muito com a morte dos três filhos de seu Zeca e de dona Maria: Valter, Samuel e Jorge Luiz. Em todos os eventos da família esteve presente, como na comemoração dos 90 anos de seu Zeca, de dona Maria e no lançamento do livro Neuma, uma mulher de fibra e de fé, escrito por Daniel Walker. Com a morte de seu Zeca, esposo, parceiro, companheiro de dona Maria, as duas se uniram muito mais, uma dando força a outra. Fiel escudeira de dona Maria, dobrou os cuidados e afagos, os cafunés assistindo às novelas na televisão. E os gatos, quando adoeciam ou morriam, ela ficava dias sem comer, deixando dona Maria contrariada e preocupada. O jeito era arranjar o mais rápido possível outro gato para preencher o vazio. E quando dona Maria adoeceu, antes de completar um ano da morte de seu Zeca, ela chorava muito. Aflita e agoniada, procurava na oração, na recitação do terço e nas visitas à Capela do Socorro diante do Santíssimo, alívio para o sofrimento de dona Maria que sentia muitas dores. Durante oito meses, zelou e cuidou dela, junto com Nilde Marques. Com a morte de dona Maria, se sentiu desamparada, sem vontade de viver e não quis continuar na casa que a abrigou por mais de 50 anos. Pediu-nos que alugássemos uma casa, porque queria ter a sua própria casa. Fizemos o seu gosto, compramos o necessário para o seu conforto. Ficou durante dois anos e seis meses morando sozinha, e à noite contava com a companhia de Magdalene que dormia com ela. Sem ânimo, saudosa dos entes queridos que se foram, seu organismo foi se debilitando e doenças começaram a surgir, e muitas vezes teve de ser hospitalizada, recebendo toda assistência da Unimed por conta do plano que nós fizemos para ela, fazia muitos anos. Resolvemos, com a autorização dos seus dois sobrinhos, Cícero Josué e Francisco Josafá, colocá-la na Casa do Idoso, localizada na Rua Pedro Cruz Sampaio, bairro Juvêncio Santana. O administrador, Irmão Bernardo, a recebeu com um sorriso, segurou a sua mão e pediu que se acomodasse em sua sala para uma conversa. Falou do tratamento que o idoso recebia em sua casa, do lazer, da alimentação. Esclareceu todos os pormenores e deixou-a à vontade para conhecer a casa e depois resolver. E assim com a sua permissão, em 08 de agosto de 2014, dia do seu aniversário, a hospedamos nesse lar abençoado por Deus. Levamos um bolo confeitado, refrigerantes para comemorar o seu aniversário e a acolhida na casa. No início, estranhou a morada. Um dos motivos era porque gostava de passear, de andar sozinha nas ruas, igrejas e em uma dessas vezes foi atropelada. Lá na casa seria diferente, só podia sair acompanhada de alguém ou com a nossa autorização. Durante este período de mais de três fez amizades, e mesmo sendo chamada para almoçar em nossa casa, achava melhor ficar na casa com seus amigos. Muito bem tratada por Neuda, uma criatura de Deus maravilhosa que cuida e ajuda no que é possível na Casa ao lado do Irmão Bernardo e de Tomás, o enfermeiro e cuidador, que a auxiliava no horário dos seus medicamentos e quando surgia alguma necessidade extra. Sempre a visitávamos aos sábados quando assistíamos a missa juntos. O importante de tudo isso é que ela foi feliz enquanto viveu, à sua maneira.
Somos gratos aos familiares e amigos que estiveram presentes na vida de Maria, e às equipes médicas do Hospital de Fraturas, Clínica São José e Hospital do Coração que sempre nos atenderam com presteza e competência nos atendimentos feitos a Maria nos momentos de hospitalização.
Maria, Deus é testemunha de que fizemos o que foi possível por você, e não poderia ser diferente para quem se dedicou e amou demasiadamente a família Marques. Muito obrigada, Maria. Que Deus lhe proporcione uma grande acolhida. No cemitério Anjo da Guarda você vai se encontrar com Seu Zeca e Dona Maria, e lá, todos juntos no jazigo da Família estão à disposição da vontade de Deus, gozando as venturas do Reino Eterno, onde estão as almas bondosas. Descanse em paz!
Tereza Neuma
Memória fotográfica