Caros leitores, no início da
semana formalizo mentalmente o assunto que irei abordar, depois passo pelo
crivo de Daniel Walker (meu esposo) que faz suas considerações. Falei que
escreveria sobre os ourives e ourivesarias de Juazeiro, pois queria guardar a
imagem fotográfica de oficinas e profissionais que atuam ainda no ramo de ouro.
Pois bem, entrevistei e fotografei alguns ourives, oficinas, utensílios, móveis
etc. Inicio a digitação. Pesquiso sobre o assunto para enriquecer mais a minha
Coluna, eis que vejo que esse assunto já foi focalizado por nosso amigo Renato
Casimiro em sua Coluna
do dia 13 de outubro de 2011, cujo tema As
Ourivesarias, encontro também Padre
Cícero e a Ourivesaria, texto de José Marques da Silva (meu sogro). E
agora? O que fazer? Daniel fala que já está bem comentado. Mas, e as pessoas
com quem conversei, que fotografei e lhes falei que sairia no Portal de
Juazeiro online, minha responsabilidade perante estes senhores. Resolvi, então,
apesar desse assunto já está bem debatido, escrever. Na década de 50 e 60 o
ponto forte em ramo de negócios de nossa cidade eram as ourivesarias. O pontapé
inicial se deu por intermédio do Padre Cícero que estimulou os moradores da
cidade a disponibilizar em sua residência uma pequena oficina para a fabricação
de joias, informações obtidas de pessoas mais velhas que viveram próxima do
Padre Cícero. Sabe-se que as ourivesarias já viveram tempos de apogeu em
Juazeiro, com centenas de fábricas de médio e grande porte, empregando uma
vasta rede de trabalhadores e artesãos. No quarteirão da Rua São Pedro, entre
Conceição e Santa Luzia só se viam, joalharias e ourivesarias. Joalheria
Diamante nº 602; Ourivesaria Santa Luzia nº 513; Ourivesaria São Luiz nº
501; Ourivesaria Padre Cícero nº 460;
Joalharia Paraibana nº 415; Ourivesaria São Pedro nº 488 etc. Era realmente uma
fartura de lojas especializadas em joias. Mas , quem destronou o comércio de joias em
Juazeiro, segundo o comerciante Geraldo Farias, proprietário da mais antiga
joalharia, Joalharia São Geraldo, localizada na Rua São Pedro foi a invasão de fábrica de folheados. A primeira a se instalar em nossa cidade, foi
a fábrica dos irmãos Neri (Severino, Antônio e José) a Cimel – Comércio e
Indústria Metalúrgica Ltda., localizada na Rua São Paulo, 1900, no bairro Santa
Tereza, conforme consta no livro Milagres
e previsões do Padre Cícero, de autoria de José Marques da Silva. Outros comerciantes
do setor atribuem à redução assustadora nesse ramo de negócios aos produtos
importadas e à invasão de produtos de baixa qualidade. Hoje, o mercado de joias
de fabricação artesanal resiste a duras penas, devido ao investimento de
pessoas do ramo que adquiriram máquinas para a fabricação em larga escala,
podem ser fabricadas num só dia 5.000 peças, ao passo que o ourives tradicional
fabrica no dia uma ou duas peças. É impossível concorrer satisfatoriamente com
essas fábricas, eles mesmo reconhecem. Entretanto, seu Antônio Gomes, proprietário
da Ourivesaria Padre Cícero, localizada na Rua Edésio de Oliveira, 84, diz que
não falta trabalho para ele e os seus operários. Pessoas que querem uma peça
diferente, exclusiva, levam o desenho, ou escolhem de revista, e ele fabrica. Seu
Antônio trabalha no ramo há mais de 40 anos e teve como primeiro patrão Sutério
Inácio da Costa, com quem aprendeu a arte de ourives. Trabalha em sua oficina seu
João Temóteo Pereira, em consertos e limpeza de joias. No ramo de oficina de
joias trabalha desde 1975. Disse que gosta muito do que faz. Outra oficina da
qual obtive informações pertence ao Sr. Antônio Gomes, que está no ramo de
ourives desde 1957, e começou como aprendiz de polidor. Trabalhou em muitas
ourivesarias, mas a que passou mais tempo foi na Ourivesaria Santo Agostinho,
de propriedade de Antônio Agostinho de Lemos, localizada na São Pedro, 684.
Passou depois a trabalhar por conta própria e hoje é dono do seu próprio
negócio, a Ourivesaria Santo Antônio, na Rua São Cândido, 30. Seu Antônio é
muito contente com o que faz. Sente-se orgulhoso e gratificado quando vê sair
de suas mãos um anel, uma aliança, um cordão. Capricha no seu trabalho, não lhe
permite imperfeição. Considera-se um dos ourives mais antigos, juntamente com
José Rufino.
José Rufino começou no ramo de
ourivesaria na oficina de Zé Bezerra Sobrinho, mais conhecido como Zé de
Bezerrinha. Depois prosperou e montou sua própria oficina com o nome de Santa Rosa,
a qual se localiza na Rua São Pedro, 170, estando no ramo há mais de 50 anos.
Um fato interessante, que seu Antônio
Gomes contou: “Acabou o ouro que tinha para fabricar as peças, saí da oficina
em direção à Capela do Socorro para pedir ajuda a meu Padim e depois me dirigi
à Matriz de Nossa Senhora das Dores, com a mesma intenção, pois estava bastante
desanimado. Voltando para o trabalho, encontro com Zacarias da Silva, que já
mexia no ramo de joias, hoje proprietário da Criativa Joias, e ele me pergunta
se tinha interesse em fabricar peças em prata. Respondi
imediatamente um sim. Logo, ele trouxe o que precisava para tocar o negócio
para frente. Assim nunca mais faltou trabalho para mim, graças a Deus”. Ele
mencionou ourivesarias famosas que já existiram, Ourivesaria Dois Irmãos, de
Ivo e Oswaldo Pita; Ourivesaria Padre Cícero, de João Menezes Filho;
Ourivesaria Alves, de José Alves de Souza; Ourivesaria Dom Bosco, de Alfeu
Guimarães; Ourivesaria São Luiz, de Luiz Gonçalves Pereira e Ourivesaria Santa
Luzia, de José Pereira Neto. Falei para seu Antônio que meu pai, Luiz Pereira e
Silva, (Lulu) no final dos anos 50 possuiu uma ourivesaria, na Rua Santa Luzia
com Padre Cícero. Ele mencionou que foi operário do meu pai, nos dois locais,
na oficina da Rua Santa Luzia e da Rua Alencar Peixoto. Disse que papai era
muito humano e lembrou da comemoração do Natal em nossa residência, que papai ofereceu
para todos os operários. Lembra que todos se sentiram a vontade e que elogiaram
a maneira delicada e fraterna dos meus pais. O paradoxo que vemos hoje, a proliferação
de tantas lojas de calçados, de confecções, de presentes tão luxuosas que
embelezam nossa cidade levando-a a ter aspecto de capital e o ramo que a
impulsionou a crescer, que já viveu momentos áureos, não tem o aparato e a
sofisticação dos outros setores. Por que será?
Durou pouco a forçada separação
deles. Hoje, já recompus me plantel com menos aves, mesmo sem a inteira
aprovação da dona da casa, minha mulher, que é um pouco indiferente à suavidade
do canto do curió, achando-o perturbador algumas vezes.
Seus animais de estimação
morreram, contudo resiste no seu íntimo a afeição por bichos. Logo você estará
novamente mimando-os e, em contrapartida, recebendo deles retribuição.
Meus aplausos pelo belo texto.
Antônio Gomes. João Temóteo e José Rufino
Equipamentos de ourivesaria |
MENSAGEM RECEBIDA SOBRE A COLUNA ANTERIOR
Confesso-lhe, Neuma, que a
leitura do seu texto mexeu comigo. É que também tenho uma paixão: adoro
pássaros, especialmente o curió, cuja etimologia esclarece que seu significado
é "amigo do homem". As aves, como o cão e o gato, nos escravizam. Às
vezes, renuncio a uma viagem de recreio por causa deles, quando não encontro
que os trate com o mesmo carinho. Há um ano, desfiz-me do meu plantel de
curiós, em virtude de uma mudança de residência. Foi um suplício para mim.
Minha mulher negou-me piedade: "Não os levará; não há espaço para
eles". Fiquei desolado.
Eduardo Matos, Fortaleza
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