domingo, 9 de dezembro de 2012

Os ourives e as ourivesarias de Juazeiro que já existiram e as que ainda existem


Caros leitores, no início da semana formalizo mentalmente o assunto que irei abordar, depois passo pelo crivo de Daniel Walker (meu esposo) que faz suas considerações. Falei que escreveria sobre os ourives e ourivesarias de Juazeiro, pois queria guardar a imagem fotográfica de oficinas e profissionais que atuam ainda no ramo de ouro. Pois bem, entrevistei e fotografei alguns ourives, oficinas, utensílios, móveis etc. Inicio a digitação. Pesquiso sobre o assunto para enriquecer mais a minha Coluna, eis que vejo que esse assunto já foi focalizado por nosso amigo Renato Casimiro em sua Coluna do dia 13 de outubro de 2011, cujo tema As Ourivesarias, encontro também Padre Cícero e a Ourivesaria, texto de José Marques da Silva (meu sogro). E agora? O que fazer? Daniel fala que já está bem comentado. Mas, e as pessoas com quem conversei, que fotografei e lhes falei que sairia no Portal de Juazeiro online, minha responsabilidade perante estes senhores. Resolvi, então, apesar desse assunto já está bem debatido, escrever. Na década de 50 e 60 o ponto forte em ramo de negócios de nossa cidade eram as ourivesarias. O pontapé inicial se deu por intermédio do Padre Cícero que estimulou os moradores da cidade a disponibilizar em sua residência uma pequena oficina para a fabricação de joias, informações obtidas de pessoas mais velhas que viveram próxima do Padre Cícero. Sabe-se que as ourivesarias já viveram tempos de apogeu em Juazeiro, com centenas de fábricas de médio e grande porte, empregando uma vasta rede de trabalhadores e artesãos. No quarteirão da Rua São Pedro, entre Conceição e Santa Luzia só se viam, joalharias e ourivesarias. Joalheria Diamante nº 602; Ourivesaria Santa Luzia nº 513; Ourivesaria São Luiz nº 501;  Ourivesaria Padre Cícero nº 460; Joalharia Paraibana nº 415; Ourivesaria São Pedro nº 488 etc. Era realmente uma fartura de lojas especializadas em joias. Mas, quem destronou o comércio de joias em Juazeiro, segundo o comerciante Geraldo Farias, proprietário da mais antiga joalharia, Joalharia São Geraldo, localizada na Rua São Pedro  foi a invasão de fábrica de folheados.  A primeira a se instalar em nossa cidade, foi a fábrica dos irmãos Neri (Severino, Antônio e José) a Cimel – Comércio e Indústria Metalúrgica Ltda., localizada na Rua São Paulo, 1900, no bairro Santa Tereza, conforme consta no livro Milagres e previsões do Padre Cícero, de autoria de José Marques da Silva. Outros comerciantes do setor atribuem à redução assustadora nesse ramo de negócios aos produtos importadas e à invasão de produtos de baixa qualidade. Hoje, o mercado de joias de fabricação artesanal resiste a duras penas, devido ao investimento de pessoas do ramo que adquiriram máquinas para a fabricação em larga escala, podem ser fabricadas num só dia 5.000 peças, ao passo que o ourives tradicional fabrica no dia uma ou duas peças. É impossível concorrer satisfatoriamente com essas fábricas, eles mesmo reconhecem. Entretanto, seu Antônio Gomes, proprietário da Ourivesaria Padre Cícero, localizada na Rua Edésio de Oliveira, 84, diz que não falta trabalho para ele e os seus operários. Pessoas que querem uma peça diferente, exclusiva, levam o desenho, ou escolhem de revista, e ele fabrica. Seu Antônio trabalha no ramo há mais de 40 anos e teve como primeiro patrão Sutério Inácio da Costa, com quem aprendeu a arte de ourives. Trabalha em sua oficina seu João Temóteo Pereira, em consertos e limpeza de joias. No ramo de oficina de joias trabalha desde 1975. Disse que gosta muito do que faz. Outra oficina da qual obtive informações pertence ao Sr. Antônio Gomes, que está no ramo de ourives desde 1957, e começou como aprendiz de polidor. Trabalhou em muitas ourivesarias, mas a que passou mais tempo foi na Ourivesaria Santo Agostinho, de propriedade de Antônio Agostinho de Lemos, localizada na São Pedro, 684. Passou depois a trabalhar por conta própria e hoje é dono do seu próprio negócio, a Ourivesaria Santo Antônio, na Rua São Cândido, 30. Seu Antônio é muito contente com o que faz. Sente-se orgulhoso e gratificado quando vê sair de suas mãos um anel, uma aliança, um cordão. Capricha no seu trabalho, não lhe permite imperfeição. Considera-se um dos ourives mais antigos, juntamente com José Rufino.
José Rufino começou no ramo de ourivesaria na oficina de Zé Bezerra Sobrinho, mais conhecido como Zé de Bezerrinha. Depois prosperou e montou sua própria oficina com o nome de Santa Rosa, a qual se localiza na Rua São Pedro, 170, estando no ramo há mais de 50 anos.
Um fato interessante, que seu Antônio Gomes contou: “Acabou o ouro que tinha para fabricar as peças, saí da oficina em direção à Capela do Socorro para pedir ajuda a meu Padim e depois me dirigi à Matriz de Nossa Senhora das Dores, com a mesma intenção, pois estava bastante desanimado. Voltando para o trabalho, encontro com Zacarias da Silva, que já mexia no ramo de joias, hoje proprietário da Criativa Joias, e ele me pergunta se tinha interesse em fabricar peças em prata. Respondi imediatamente um sim. Logo, ele trouxe o que precisava para tocar o negócio para frente. Assim nunca mais faltou trabalho para mim, graças a Deus”. Ele mencionou ourivesarias famosas que já existiram, Ourivesaria Dois Irmãos, de Ivo e Oswaldo Pita; Ourivesaria Padre Cícero, de João Menezes Filho; Ourivesaria Alves, de José Alves de Souza; Ourivesaria Dom Bosco, de Alfeu Guimarães; Ourivesaria São Luiz, de Luiz Gonçalves Pereira e Ourivesaria Santa Luzia, de José Pereira Neto. Falei para seu Antônio que meu pai, Luiz Pereira e Silva, (Lulu) no final dos anos 50 possuiu uma ourivesaria, na Rua Santa Luzia com Padre Cícero. Ele mencionou que foi operário do meu pai, nos dois locais, na oficina da Rua Santa Luzia e da Rua Alencar Peixoto. Disse que papai era muito humano e lembrou da comemoração do Natal em nossa residência, que papai ofereceu para todos os operários. Lembra que todos se sentiram a vontade e que elogiaram a maneira delicada e fraterna dos meus pais. O paradoxo que vemos hoje, a proliferação de tantas lojas de calçados, de confecções, de presentes tão luxuosas que embelezam nossa cidade levando-a a ter aspecto de capital e o ramo que a impulsionou a crescer, que já viveu momentos áureos, não tem o aparato e a sofisticação dos outros setores. Por que será?


Antônio Gomes. João Temóteo e José Rufino



Equipamentos de ourivesaria



MENSAGEM RECEBIDA SOBRE A COLUNA ANTERIOR
Confesso-lhe, Neuma, que a leitura do seu texto mexeu comigo. É que também tenho uma paixão: adoro pássaros, especialmente o curió, cuja etimologia esclarece que seu significado é "amigo do homem". As aves, como o cão e o gato, nos escravizam. Às vezes, renuncio a uma viagem de recreio por causa deles, quando não encontro que os trate com o mesmo carinho. Há um ano, desfiz-me do meu plantel de curiós, em virtude de uma mudança de residência. Foi um suplício para mim. Minha mulher negou-me piedade: "Não os levará; não há espaço para eles". Fiquei desolado.
 Durou pouco a forçada separação deles. Hoje, já recompus me plantel com menos aves, mesmo sem a inteira aprovação da dona da casa, minha mulher, que é um pouco indiferente à suavidade do canto do curió, achando-o perturbador algumas vezes.
 Seus animais de estimação morreram, contudo resiste no seu íntimo a afeição por bichos. Logo você estará novamente mimando-os e, em contrapartida, recebendo deles retribuição.
 Meus aplausos pelo belo texto.
Eduardo Matos, Fortaleza

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