domingo, 20 de maio de 2012

Homenagem ao Dia das Mães

 


Transcrevo hoje, dando sequência a homenagem prestada na coluna anterior, o restante do livreto Histórias de Almeidinha que Carlos Alberto escreveu, homenageando sua mãe por ocasião dos seus noventa anos. No momento da entrega do presente, aconteceu uma pequena festinha regada a salgadinhos, refrigerantes, um bolo confeitado com as velhinhas nove e zero e a presença dos familiares e amigos. Foi uma tarde muito gostosa, alegre e de muita gozação por parte de seu Zeca, zombando das gafes, dos micos e vexames cometidos por dona Maria e que a partir desse dia se tornaram públicos.
A sequência final do livrinho: Histórias de Almeidinha
                          
                                        
A BAHIA NÃO É O CEARÁ
Mamãe foi com Lou para Salvador, para assistir ao nascimento de Carlos Alexandre. Foram de ônibus e atravessaram o Rio São Francisco, chegando em Juazeiro da Bahia. Nesta cidade baiana, tiveram que mudar de ônibus para prosseguir viagem até Salvador. Prontamente, um gentil carregador se ofereceu para carregar as malas das duas senhoras até o outro ônibus. Concluído o serviço, mamãe quis dar uma gorjeta e perguntou, bem educadamente: “Quanto é, meu senhor?”. O baiano, sem cerimônia e baianamente, cobrou um certo valor, que elas acharam muito alto. Mamãe então, exclamou:”Vige, é muito caro! No Ceará não é esse preço não”. O baiano, agora nada gentil e irritado falou: “Acontece que a senhora tá na Bahia”.

NO TAXI, EM SALVADOR

Também na viagem a Salvador, mamãe e Lou, pegaram um taxi para ir do meu apartamento ao hospital, onde Ozenir estava se recuperando do parto de nosso filho Carlos Alexandre. Eu não podia levá-las porque estava trabalhando. Naquele tempo, a maioria dos taxis era fusca, sem o banco de passageiro da frente. Os baianos diziam que o banco era retirado para facilitar o acesso dos passageiros no carro. Mas parece que, na verdade, era para transportar menos gente. Coisa de baiano!
Lou entrou no taxi e ficou sentada no banco, atrás do motorista. Mamãe sentou no lado que não tinha o banco da frente. Logo que sentou, mamãe disse pro motorista para ir pro hospital e que estavam atrasadas. É claro que mamãe não disse para o motorista ir ligeiro. Foi ele que entendeu dessa maneira e seguiu, então, com muita velocidade. Mamãe, como estava sem o cinto, deslocou-se para o painel do carro e, desequilibrada quase sentou no colo do motorista. Este, entre assustado e incomodado, falou: “Calma, minha senhora, desse jeito eu não vou poder dirigir”.

OS MEUS CINQUENTA ANOS

Quando eu completei 50 anos, comemorei a data em minha residência, em Natal. Além dos meus pais, familiares meus e de Ozenir, vieram também alguns amigos íntimos de Juazeiro. Foi uma festinha bem familiar e que me proporcionou uma grande alegria. Lá para altas horas da noite, já no final da festa, eu já estava, digamos, um pouco mais alegre, sob o efeito de algumas doses de whisky. E como se diz no Ceará, eu quis botar boneco, inventando de ir para a rua, continuar a bebedeira. Mamãe pedia que eu não fosse, insistia mesmo. E eu lá, bonecando: “Não..., eu vou pra rua, eu não quero que o dia acabe”. Lá para as tantas, ela vendo que eu não me demovia dessa ideia maluca, falou sério comigo: “Olha aqui, Carlos Alberto, se você continuar com essa palhaçada eu não venho pra festa do seu próximo cinquentenário”. ´Taí, uma demonstração inédita de otimismo dela, que eu nunca tinha visto  antes.

NO CARRO COM DANIEL

Mamãe tem o maior medo de carro. Dentro e fora dele. Cuidadosa e precavida, ela só atravessa uma rua, se não tiver nenhum carro se dirigindo no seu ângulo de visão. Dentro do carro não é diferente. Por diversas vezes em suas visitas às minhas residências, em Salvador, Aracaju e Natal, a gente saía para passear pela cidade. Ficávamos mostrando os locais turísticos da cidade, e ela não virava a cabeça para olhar. Ela dentro do carro só olha para a frente. Ela acha que se desviar o olhar, quem estiver dirigindo se distrai e pode bater o carro ou atropelar alguma pessoa. Pois bem, foi assim que um dia ela foi passear de carro com Daniel, Neuma e papai, na estrada do Horto. Durante todo o percurso até ao Horto, mamãe ficava advertindo Daniel: “Cuidado, olha o menino!, olha o carro!, vá devagar”; “Oh! Meu Deus, olha a carroça, cuidado no jumento, esse carro tem freio?”. Daniel, já sem paciência, de imediato parou o carro, tirou a chave da ignição, abriu a porta, desceu do carro e falou pra mamãe: “Tome a chave, mamãe, a senhora agora é que vai dirigir”. Mamãe, chateada, resmungou alguma coisa tipo ”Precisa ser tão grosso assim!”, e ficou quietinha o resto da viagem.

A VALISE NO ÔNIBUS

Quando eu morava em Aracaju, mamãe e papai foram nos visitar. Viajaram de ônibus até Maceió e lá pegaram outro ônibus para Aracaju. Naquele tempo não tinha ônibus direto de Juazeiro para Aracaju. Mamãe sentou numa cadeira do lado direito do ônibus, e colocou a valise no porta bagagem de mão do ônibus, de tal modo que ela sentada, olhando para a frente, ficava vendo a valise do seu lado esquerdo. Num determinado momento, o ônibus fez uma parada para o almoço ou lanche, no percurso Juazeiro/Maceió. Todos desceram. Ao retornar ao ônibus, mamãe entes de sentar na poltrona, quis pegar a valise para retirar alguma coisa. Então, de pé, no interior do ônibus, ela procurou a valise no porta bagagem do lado esquerdo, como ela sabia que estava. Mas, não a encontrou. Aí ficou abusada: “Cadê minha valise? Eu coloquei bem aqui, desse lado. Eu não posso viajar sem minha valise. Ela é marrom e eu não estou vendo ela”. Nisso todo mundo já tinha entrado no ônibus, todos já estavam sentados e logicamente queriam seguir viagem. Ela continuou: “Eu quero minha valise! Ô motorista, o senhor não pode seguir viagem se não aparecer minha valise”. O clima já estava pesado, papai, tranquilo nem participava da cena. Foi então, que o motorista resolveu interferir. Vendo uma valise, perguntou: "Minha senhora, não será aquela valise ali, do outro lado?” E mamãe: “É essa mesmo”. Foi então, que mamãe se deu conta que estava olhando no sentido contrário do ônibus. Agradeceu ao motorista, pegou a valise, colocou-a no colo e a viagem seguiu em paz.

NO ELEVADOR DO PRÉDIO DE LÍLIA

Durante uma viagem a Aracaju, passamos em Recife e Olinda para fazer uma visita aos nossos parentes. Lilia nos levou para visitar sua filha e minha sobrinha Lília, que mora no décimo andar de um apartamento em Boa Viagem. Pegamos o elevador social do prédio, muito chique, tinha um espelho no fundo. Mamãe ficou na lateral do elevador, quietinha, tensa, bem no seu natural, e olhou para o espelho. Quando a porta do elevador abriu, já no andar de Lília, mamãe falou bem baixinho: “Esse pessoal parece com a gente”. Ela achou que a nossa imagem refletida no espelho eram outras pessoas. Imaginem as risadas.

CONFUNDINDO PALAVRAS

Mamãe está com um pequeno problema de surdez. Digo pequeno, porque acho que ela ouve só o que quer ouvir e, precipitada, confunde as palavras. Inclusive, há uns três anos ou quatro anos atrás, ela fez um exame de audiometria, que acusou sua boa audição, com alguma deficiência, normal para sua idade. Há pouco tempo atrás, passava uma novela na TV Globo, “O quinto dos infernos”. E tinha uma personagem que representava D. João VI, meio ridicularizado, bobalhão, e que tinha um jeito de falar meio meloso, tipo retardado. Eu gostava de imitar o seu jeito de falar. Um dia, em Juazeiro, eu estava de saída para Natal, logo cedo. Sentei-me na mesa da cozinha, enquanto mamãe preparava o nosso café da manhã. Eu então, realmente triste por ter que viajar, e querendo brincar um pouco com a situação, disse, imitando o tal D. João VI e relembrando um apelido meu de criança: “Bertim está tão tristim!” Mamãe imediatamente achou que eu estava querendo alguma coisa e perguntou: “Quer feijão?”

EU QUERO É BROA

Tem duas coisas que mamãe não gosta: viajar de carro (porque tem medo de acidente) e almoçar em restaurante de estrada durante a viagem (o motivo: não quer gastar dinheiro e nem quer que a gente gaste). Numa viagem de carro de retorno de Natal para Juazeiro, vinham Daniel, Neuma, papai e mamãe. Ao chegarem em Pombal (PB), Daniel errou o caminho e seguiu viagem na direção de Patos  e Campina Grande (PB). Lá pra frente notou que estava errado e se distanciando do destino. Como já era mais ou menos o meio dia, e estavam com fome, ele resolveu parar no primeiro restaurante que apareceu. Ao sentarem-se na mesa, Daniel irritado com a mancada e com o atraso da viagem, perguntou a mamãe: “E aí mamãe, o que a senhora vai querer para almoçar?” Mamãe prontamente respondeu: “Eu quero é broa!” Daniel um pouquinho mais irritado, contestou. “Que broa, Mamãe? A gente vai demorar a chegar em Juazeiro, está todo mundo com fome, e a senhora vem dizer que quer almoçar broa!”

MENSAGENS RECEBIDAS
Pessoas especiais deixam marcas que fazem a vida realmente valer a pena, meus avós foram muito felizes e souberam como ninguém repartir essa felicidade, lembranças muito boas e alegres!!!
Michel Macedo, Crato, Ceará

Hoje cedo postei também no blog Antonio Luiz Macêdo e no Recanto das Letras homenagens às mães. você, como mãe, está  incluída. A homenagem da sua coluna tá arretada. Pense! Parabéns!
Antonio Luiz Macedo, Fortaleza, Ceará

Mais uma vez quero parabenizá-la pelos artigos escritos. Primeiramente a linda homenagem feita a D. Toinha e agora recentemente pelo Dia das Mães e o Mês de Maio, Mês de Maria. Adorei todos. Homenagens mais do que merecidas.
Marleide Guimarães, Fortaleza, Ceará