domingo, 3 de junho de 2012

As flores e plantas da minha infância e a saudade que vem


Há uns dois meses (eu e Daniel) fizemos uma viagem de carro até Gravatá para dar uma revigorada após o falecimento de dona Maria. A tristeza e a saudade nos abalaram muito, então resolvemos fazer esse passeio para conhecer e curtir o tão famoso frio de lá, mas acontece que o clima estava bem parecido com o nosso. Mesmo assim foi uma viagem maravilhosa. Na estrada, como passageira, ia apreciando as paisagens, os campos, as casinhas solitárias no caminho e fui encontrando muitas florzinhas que fizeram parte de minha vida, na casa dos meus pais, na Rua São José, 750, onde hoje funciona um estacionamento. Lembro, por exemplo, de uma trepadeira plantada no jardim junto ao muro, com ramos cheios de flores de cor branca e tom rosado das quais saía uma espécie de mel ou algo com sabor adocicado que gostávamos de sugar, e como era bom! E também brincávamos colocando a flor no dedo médio para estourá-la e ouvir o pipoco que até assustava quem estava desprevenido. Amor agarradinho, outra espécie de trepadeira, rosa e branca, era na casa de titia Maroli e tomava conta de todo o muro do jardim caindo para dentro, ficando todo rosadinho. Nesse mesmo jardim tinha o Mimo do Céu, florzinha muito linda que embelezava em derredor da casa e do terraço. Não posso esquecer as famosas Dálias de várias cores. O encanto que inebriava a nossa visão era o tamanho delas, enormes, viradas para a frente, de lado, umas pertinho das outras, como se estivessem dizendo para nós: “vocês estão me admirando?”; Carrapicho, planta de haste verde que possui umas bolinhas cheias de espinhos. Costumava participar de uma brincadeira que consistia em jogar de longe, a haste com o carrapicho, na roupa de quem estava próximo de nós para que grudasse na roupa e quando a pessoa fosse retirar se espinhava.  Maravilha uma plantinha muito fácil de pegar, basta semear o canteiro ou jarro com algumas sementes e logo germina. Quem levava de várias cores para mamãe era seu Manuel, um velhinho que gostava de tomar café lá em casa e presenteava mamãe com as sementes; Hibisco fechado, vermelho, nossa brincadeira predileta com as bonecas, fazia de conta que era carne, cortava os pedacinhos e colocava nas panelinhas para que as bonecas comessem. Papai comprou um pequeno terreno no final dos anos 50 no Sítio Carité, hoje batizado de bairro. A estrada no inverno era um deus nos acuda, o massapê, uma terra preta de odor desagradável era um estirão só. Atolava os carros de pequena tração, o que não era o caso do transporte de papai, que era um jeep. Quando chegava o domingo esse passeio era infalível. No terreno, não chamávamos de sítio porque não possuía árvores frutíferas de grande porte, existiam alguns pés de cana, goiabeiras e muito capim e algumas flores, como a Jutirana, florzinha rasteira, na cor rosa ou lilás que invadia quase todo o terreno e a chanana, florzinha que só abre as pétalas pela manhã. Paulo, meu irmão que é engenheiro agrônomo, disse que ela é muito preguiçosa, e é chamada de funcionária pública, porque trabalha só um expediente. No terreninho tinha uma coisa bastante curiosa para nós crianças, era um olho dágua. Próximo de uma cerca que servia de divisão entre o nosso terreno e o vizinho. O olho dágua ficava no nosso. Era bonito ver de perto aquela água jorrando sem parar de um pequeno buraco, só a natureza criada por Deus nos proporciona belezas assim inesquecíveis.
Passeando nas ruas de Gravatá me deparo com um pé de Acácia, de flores brancas, misturadas com rosa e um pistilo marrom, tem a aparência de orquídea. Pendurado nos galhos vagens grandes e escuras, quando quebrada saem às sementinhas. E as Borboletas matizadas, amarelas, vermelhas, que gostava de levar para as minhas professoras quando fazia o primário.
Caros leitores, nesta viagem revivi e lembrei de coisas maravilhosas, de plantas, de flores, de momentos de descontração, de minhas brincadeiras com as bonecas e ainda tive o prazer de passear com o meu amado, de conversar de mãos dadas nas praças de Gravatá, ruminando e saboreando, como disse minha amiga Margarida Angélica, dos muitos momentos felizes da minha vida. 
 1.Chanana fechada. 2. Chanana aberta. 3. Mimo do céu. 4. Amor agarradinho. 5. Borboleta. 6. Dália. 7. Maravilha. 8. Hibisco fechado. 9. Trepadeira. 10. Acácia

MENSAGEM RECEBIDA
Oi Neuma !
Formidável! Ficou a cara dela, em conformidade com sua natureza: simples, serena, verdadeira e pura, esta "Dona Tudinha". Fiquei comovida, também, por se tratar de minha mãezinha, e, registro aqui o preito de minha gratidão pelo carinho e conforto de sentir e sabê-la amiga e tão presente nesse momento sombrio "porque passo agora". Parabenizo-lhe pelo desempenho tão fiel e generoso em trazer para nós lembranças indeléveis que fazem parte de nossa história. Valeu! Um abraço fraterno e continue com esse belo trabalho, que é uma forma de resgatar a memória de muitos, e ao mesmo tempo prestar-lhes homenagens.
Socorro Aguiar, Rio de Janeiro, RJ