Há uns dois meses (eu e Daniel)
fizemos uma viagem de carro até Gravatá para dar uma revigorada após o
falecimento de dona Maria. A tristeza e a saudade nos abalaram muito, então
resolvemos fazer esse passeio para conhecer e curtir o tão famoso frio de lá, mas
acontece que o clima estava bem parecido com o nosso. Mesmo assim foi uma viagem
maravilhosa. Na estrada, como passageira, ia apreciando as paisagens, os
campos, as casinhas solitárias no caminho e fui encontrando muitas florzinhas
que fizeram parte de minha vida, na casa dos meus pais, na Rua São José, 750,
onde hoje funciona um estacionamento. Lembro, por exemplo, de uma trepadeira plantada no jardim junto ao
muro, com ramos cheios de flores de cor branca e tom rosado das quais saía uma
espécie de mel ou algo com sabor adocicado que gostávamos de sugar, e como era
bom! E também brincávamos colocando a flor no dedo médio para estourá-la e
ouvir o pipoco que até assustava quem estava desprevenido. Amor agarradinho, outra espécie de trepadeira, rosa e branca, era
na casa de titia Maroli e tomava conta de todo o muro do jardim caindo para
dentro, ficando todo rosadinho. Nesse mesmo jardim tinha o Mimo do Céu, florzinha muito linda que embelezava em derredor da
casa e do terraço. Não posso esquecer as famosas Dálias de várias cores. O encanto que inebriava a nossa visão era o
tamanho delas, enormes, viradas para a frente, de lado, umas pertinho das
outras, como se estivessem dizendo para nós: “vocês estão me admirando?”; Carrapicho, planta de haste verde que
possui umas bolinhas cheias de espinhos. Costumava participar de uma brincadeira
que consistia em jogar de longe, a haste com o carrapicho, na roupa de quem
estava próximo de nós para que grudasse na roupa e quando a pessoa fosse
retirar se espinhava. Maravilha uma plantinha muito fácil de
pegar, basta semear o canteiro ou jarro com algumas sementes e logo germina.
Quem levava de várias cores para mamãe era seu Manuel, um velhinho que gostava
de tomar café lá em casa e presenteava mamãe com as sementes; Hibisco fechado, vermelho, nossa
brincadeira predileta com as bonecas, fazia de conta que era carne, cortava os
pedacinhos e colocava nas panelinhas para que as bonecas comessem. Papai
comprou um pequeno terreno no final dos anos 50 no Sítio Carité, hoje batizado
de bairro. A estrada no inverno era um deus nos acuda, o massapê, uma terra
preta de odor desagradável era um estirão só. Atolava os carros de pequena
tração, o que não era o caso do transporte de papai, que era um jeep. Quando
chegava o domingo esse passeio era infalível. No terreno, não chamávamos de
sítio porque não possuía árvores frutíferas de grande porte, existiam alguns
pés de cana, goiabeiras e muito capim e algumas flores, como a Jutirana, florzinha rasteira, na cor
rosa ou lilás que invadia quase todo o terreno e a chanana, florzinha que só abre as pétalas pela manhã. Paulo, meu
irmão que é engenheiro agrônomo, disse que ela é muito preguiçosa, e é chamada
de funcionária pública, porque
trabalha só um expediente. No terreninho tinha uma coisa bastante curiosa para
nós crianças, era um olho dágua. Próximo de uma cerca que servia de divisão
entre o nosso terreno e o vizinho. O olho dágua ficava no nosso. Era bonito ver
de perto aquela água jorrando sem parar de um pequeno buraco, só a natureza
criada por Deus nos proporciona belezas assim inesquecíveis.
Passeando nas ruas de Gravatá me
deparo com um pé de Acácia, de flores
brancas, misturadas com rosa e um pistilo marrom, tem a aparência de orquídea.
Pendurado nos galhos vagens grandes e escuras, quando quebrada saem às sementinhas.
E as Borboletas matizadas, amarelas,
vermelhas, que gostava de levar para as minhas professoras quando fazia o primário.
Caros leitores, nesta viagem
revivi e lembrei de coisas maravilhosas, de plantas, de flores, de momentos de
descontração, de minhas brincadeiras com as bonecas e ainda tive o prazer de
passear com o meu amado, de conversar de mãos dadas nas praças de Gravatá, ruminando e saboreando, como disse minha
amiga Margarida Angélica, dos muitos momentos felizes da minha vida.
1.Chanana fechada. 2. Chanana
aberta. 3. Mimo do céu. 4. Amor agarradinho. 5. Borboleta. 6. Dália. 7. Maravilha.
8. Hibisco fechado. 9. Trepadeira. 10. Acácia
MENSAGEM RECEBIDA
Oi Neuma !
Formidável! Ficou a cara dela, em
conformidade com sua natureza: simples, serena, verdadeira e pura, esta
"Dona Tudinha". Fiquei comovida, também, por se tratar de minha
mãezinha, e, registro aqui o preito de minha gratidão pelo carinho e conforto
de sentir e sabê-la amiga e tão presente nesse momento sombrio "porque
passo agora". Parabenizo-lhe
pelo desempenho tão fiel e generoso em trazer para nós lembranças indeléveis
que fazem parte de nossa história. Valeu! Um abraço fraterno e continue com
esse belo trabalho, que é uma forma de resgatar a memória de muitos, e ao mesmo
tempo prestar-lhes homenagens.
Socorro Aguiar, Rio de Janeiro, RJ