Em visita recente à Casa do Idoso, dirigida pelo irmão
Bernardo, OSB, me deparei com uma cena que nunca tinha visto antes, ao vivo e em
cores, que me deixou perplexa. Um senhor sentadinho em uma cadeira de rodas,
com uma esferográfica na boca escrevendo em um caderno a tabuada.
Seus membros
superiores e inferiores estão atrofiados e pouco se movimentam. Na minha observação fiquei
pensando com os meus botões: o que se passa por sua cabeça nestes momentos.
Notando que estava sendo observado, levantou a cabeça e esboçou um leve
sorriso. Aproveitei a pausa que ele deu e perguntei: O que aconteceu com o
senhor? Ele respondeu que quando jovem bebia muito e numa destas bebedeiras
sofreu um grave acidente que lhe deixou assim.
Mas, apesar de tudo isto era muito grato a Deus por ter-lhe
poupado à vida. E para preencher o seu tempo e não se sentir inútil praticava o
exercício da tabuada. Não só para decorar como também para exercitar a prática
de contas. Perguntei seu nome e de onde ele era. A resposta veio rápida: “Meu
nome é Vinícius, nasci em Barbalha, CE, e aprendi o ofício de pedreiro com um
senhor muito generoso da cidade de Crato, CE. Quando aprendi o ofício me mandei
para o Sul. Trabalhei em Minas Gerais por algum tempo. Em São Paulo é que me
dei bem. Construí casas, mas fui muito estragado na minha vida, perdi muita
coisa. Não posso reclamar, Deus me deu muitas chances, eu é que não soube
aproveitar. Não posso é ficar parado, preciso fazer alguma coisa. Tem mais uma
coisa, Neuma, gosto de ler a Bíblia.
Quando acabou de falar, deu um sorriso. Um sorriso de alegria
mesmo, de satisfação. Ao despedir-me dele, pensei: Deus é quem lhe dar esta
força para suportar com resignação uma vida tão limitada e dependente dos
outros.
Parabéns seu Vinícius por seu exemplo.