Quando notava que eles estavam caidinhos, esmorecidos, recorria sempre às rezadeiras ou benzedeiras, mulheres que benziam as crianças ou mesmo pessoas adultas, com um raminho de planta, recitando algumas orações. Esse aprendizado passou de mãe para filha, de tia para sobrinha ou de parentes bem próximos. Atualmente não encontramos mais essas mulheres, pois a modernidade fez o interesse desaparecer, não existindo mais mercado para tal costume. Será que existe ainda em algum lugar? As senhoras que cuidavam dos meus filhos: dona Maria Barros (foto ao lado), conhecida como Maria de Beato, moradora do Bairro Socorro e dona Olindina, vizinha minha da Rua Santa Rosa.
Lavadeiras de roupas. Eis aí uma profissão muito requisitada na década de 50 e meado de 60. Nessa época, o nosso Rio Salgadinho não era poluído e tinha água suficiente. Lembro bem que dona Neném, era a nossa lavadeira, morava próxima da nossa casa, na Rua dos Passos, hoje Rua Clóvis Beviláqua, a nossa casa localizava-se na Rua São José. Chegava bem cedinho e pegava a trouxa de roupa que estava bem amarrada, e o sabão em barra colocado dentro. O fardo era bem pesado e precisava do auxílio de alguém para colocar na cabeça dela. À tardinha, ela retornava com a roupa bem enxuta e cheirosa. O rio foi secando, a poluição tomando conta e as lavadeiras passaram a executar seus trabalhos em lavanderias públicas. Com a chegada da máquina de lavar roupas nas residências os seus préstimos foram minguando e hoje não é fácil encontrá-las. Recorre-se ultimamente às Lavanderias que já entregam as roupas lavadas e passadas.
Em uma viagem recente a São Paulo encontrei na Praça da República um senhor com uma caixa em formato de casinha e dentro uma jandaia (gasguita que só!). Mediante um pequeno pagamento ela retirava da casinha, com o bico, um papel que lhe trazia sorte. Voltei ao tempo, e lembrei que quando criança ia às vezes à lojas Credilar de propriedade de meu pai, na Rua Santa Luzia, em frente ao Edifício M. Oliveira, na entrada do Mercado Central e lá existia um senhor que tinha um papagaio que fazia a mesma coisa. Gostava de ficar observando, e pedia para papai comprar um ingresso para ver que surpresa o papagaio tinha para me dizer.
25 de março, dia em que se comemora a Abolição da Escravatura no Ceará, primeiro Estado a libertar os escravos no nosso País. Hoje pouco se comenta, não é divulgado e acredito que nas escolas talvez não se mencione mais tal fato. Na minha época, as escolas comemoravam e era até feriado. Os tempos mudaram, a evolução assediou e extinguiu os nossos valores e o que se enquadra e se divulga é só corrupção e tragédias. Fatos que nos orgulham são ultrapassados.
Visitando a Colina do Horto em um desses dias, descobri por acaso um senhor debaixo de um guarda-sol com um chifre de boi bem enfeitado pendurado no pescoço contendo torrado, conhecido também como rapé. Imediatamente surgiu em minha memória a figura irreverente do mais famoso vendedor de torrado da nossa cidade. Ele passava no comércio, precisamente nas principais ruas, como Rua São Pedro, São Paulo, Santa Luzia e Alencar Peixoto, ostentando um enorme chifre de boi, tendo no seu interior o famoso torrado perfumado com essências de hortelã, mentol ou eucalipto. Acredito que poucas pessoas atualmente se utilizam dessa meizinha, que tinha como objetivo fazer com que a pessoa espirrasse.
A todos os leitores desta Coluna desejo uma Feliz Semana Santa. Aguardo notícias ou comentários de vocês. Paz e Bem!