domingo, 4 de novembro de 2012

Santuário de São Francisco das Chagas


Meu pai, muito devoto de São Francisco, contava pra nós que assistiu ao lançamento da pedra fundamental do Santuário de São Francisco em Juazeiro, em 6 de janeiro de 1950 e também a sua inauguração, seis anos depois. No dia do lançamento da pedra fundamental, a euforia reinava em toda população juazeirense, dia de muitos festejos, de bandeirolas espalhadas no local, pois não havia mais dúvida da edificação do majestoso santuário em homenagem a São Francisco das Chagas, obra dos  frades capuchinhos. Naquele dia, após o lançamento da pedra fundamental, já era noite quando aconteceu uma tragédia que repercutiu por vários anos e obscureceu um pouco o evento, que foi o assassinato de Monsenhor Joviniano Barreto. Monsenhor Joviniano vigário da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, padre íntegro, correto, fiel aos dogmas da igreja, foi assassinado barbaramente com uma facada desferida no seu coração por uma pessoa que, segundo foi informado na época, não possuía o juízo perfeito e cujo nome é José Pedro da Silva. Ele pediu ao Monsenhor que fizesse seu casamento com uma senhora que já era casada, e como ele se negou a atender seu pedido vingou-se tirando-lhe a vida. Nos domingos papai gostava de passear conosco quando éramos crianças e como não tinha opção de parques, de praças para brincarmos, ele nos levava para passear no Passeio das Almas, nos Franciscanos. Depois, era tradição visitar o santuário, olhar para o teto e procurar a estrela que tinha o nosso nome. Meus irmãos se distraíam sentando nos bancos, se escondendo nas colunas, mas o meu objetivo era encontrar a estrela que tinha o meu nome, o pescoço doía, mas continuava insistindo com a cabeça para cima, no entanto, a busca foi sempre inútil porque nunca encontrei e até hoje, quando participo da celebração da santa missa, ainda a procuro. Um pequeno esclarecimento para os leitores: as estrelas formam o forro da igreja, e essas estrelas na época da construção foram uma estratégia para arrecadar fundos para a obra. Quem comprava a estrela tinha o nome colocado, papai comprou oito estrelas. Por essa razão meus pais então, se aproximaram mais dos capuchinhos e em especial de frei Jesualdo, que se tornou grande amigo de nossa família, frequentando nossa casa como visitante e como conselheiro. Frei Jesualdo junto com frei Conrado e frei Virgílio  foram os missionários escolhidos como esmoleiros, os encarregados de conseguir rendas para a execução da obra, denominados depois como três autênticas colunas do Santuário. Frei Mirocles presidiu a construção do santuário, organizando movimentos para a obtenção dos meios financeiros e como era um perito entalhador confeccionou as portas do santuário e do convento. Foi o 1º Superior da Comunidade dos Capuchinhos. Frei Francisco, o artista forjador do santuário, em cujos ombros pesaram as responsabilidades maiores, da técnica e arquitetura. Ele não só dirigiu, como trabalhou no sol e na chuva, pelos andaimes da construção, carregando material, rebocando, medindo, instruindo e aconselhando. As informações contidas com relação à construção, frade superior, frades benfeitores, frade construtor, consegui no Suplemento Extraordinário de A voz de São Francisco em comemoração a solene inauguração do Santuário que faz parte do Arquivo do Portal de Juazeiro.                      
  Para um maior conhecimento dos meus leitores o santuário concluído gastou em mão de obra 560.000 horas de trabalho; 4.591 sacas de cimento; 10.500 quartas de cal; 49.088 quilos de ferro; 4.700 m3 de vidros; 3.050.000 de tijolos. Frente do santuário 110 mts; torre 50 mts; carrilhão formado com 8 sinos.  Uma excelente forma que encontraram para dar continuidade à construção foi colocando  à venda colunas, janelas, vitrais, portas etc. Apelaram também às cidades circunvizinhas e à população de nossa cidade com o seguinte pedido: “Fazemos um veemente apelo a todas as pessoas de boa vontade, amigos ou devotos de são Francisco, para que ajudem aos Capuchinhos e à população juazeirense a terminar o monumental santuário de São Francisco, comprando alguma parte dessa igreja em construção”. Receberam como doação tijolos, mosaicos, telhas, cimento, madeira etc.   É de admirar que mais de cinquenta anos depois da construção o forro (teto) continua em perfeito estado. As imagens que se encontram nos altares e a de são Francisco são todas feitas em madeira e vieram da Itália em navio. Umas das minhas maiores alegria foi participar da 1ª Eucaristia nesse santuário, em 8 de maio de 1958. Aquele tapete vermelho enorme  estendido da porta central até próximo do altar e as crianças de ambos os sexos, enfileiradas em par acompanhadas das suas catequistas, em busca dos seus lugares. Que cena maravilhosa, até hoje lembro de todos os detalhes e da sensação jubilosa de neocomungante. Outro fato acontecido comigo neste santuário, desta feita foi de muito medo. Aluna do Colégio Menezes Pimentel, cursando o 4º ano, a professora Socorro Duarte programou uma visita para que conhecêssemos o carrilhão da torre do Santuário. A turma de alunos não muito grande, de 15 a 18 alunos, quando comecei a subir as escadas o pavor tomou conta de mim, ao ver as cordas penduradas e o espaço muito pequeno para subir. Cadê a coragem? Quis desistir, mas dona Socorro muito enérgica disse: “Neuma, você vai subir, não vou deixá-la sozinha aqui embaixo. O coração palpitando até a goela e as pernas como geleia foi dessa forma que subi, no topo todos admirados observando a vista da cidade e eu encolhidinha, tremendo que só vara verde, não apreciei o passeio, para mim foi uma verdadeira tortura, hoje conto sem traumas, mas naquela época, criança ainda, o medo foi grande. Amigos que nos visitam, fazemos questão de mostrá-los essa preciosa joia da arquitetura em estilo romano. Temos imenso orgulho que os nossos amigos visitantes conheçam a lindeza dessa igreja. E em reconhecimento e gratidão por Juazeiro tê-los acolhido e atendido com prontidão aos seus apelos na construção do santuário, frei Virgílio, que participou da construção como esmoleiro, e por seu grande amor ao Juazeiro, idealizou e construiu um presente imponente e valiosíssimo por ocasião do seu Centenário de Juazeiro, que são as  artísticas estações da Via Sacra e os mistérios do Rosário da Santa Mãe de Deus, tendo como engenheiros da obra, Francisco Tadeu Coelho Bezerra e Felipe Neri Coelho. Cada quadro foi doado por pessoas amigas e por instituições. O calçamento em derredor das estações na Praça das Almas foi tudo obra sua, o empenho e o esforço foram grandes, mas valeu a pena deixar essa obra que perdurará por séculos. E é necessário que se diga foi uma das poucas obras que ficaram para lembrar o Centenário da Independência de Juazeiro. E viva frei Virgílio por deixar marcado com tão belo cenário a Praça das Almas! 
Quadro da Via Sacra e carrilhão


Interior do Santuário

Passeios das Almas

Vitrais e teto com estrelas com nomes dos benfeitores
Frei Francisco, Frei Mirocles, Frei Conrado, Frei Jesualdo e Frei Virgílio

Fotos históricas da construção do Santuário



Nesta foto, eu quando criança (8 anos)  acompanhada de
minha prima Lizieux e papai (Luiz Pereira e Silva em frente
ao Santuário de São Francisco


MENSAGENS RECEBIDAS SOBRE O TEMA DA COLUNA ANTERIOR
"O Ensino Normal é uma necessidade, pois não existe ninguém melhor do que a normalista para lidar com crianças em fase escolar." - Concordo com essa sua assertiva. Necessidade que abre lacuna pedagógico-didático-disciplinar."
Eurides Dantas, Juazeiro do Norte

Olá minha prima, boa tarde!
Fazia algum tempo que não lia seus artigos em sua coluna, e hoje resolvi fazer como Bial "dá uma espiadinha"... E de repente me deparo com as delícias de sua culinária e o nosso tão famoso pavê. Sem contar com os outros artigos sobre dona Amália, dona Valba e dona Nilmar. Como sempre, uma homenagem muito bonita e merecida. E o seu Baú então!... Esse parece que é sem fundo, desses de mágico, que não para de surgir coisas interessantes que ficaram em nossa memória. Adorei tudo!
Continue assim nos levando ao mundo do passado.
Um grande beijo,
Marleide Barbosa Guimarães, Fortaleza, Ceará

Nota da Colunista: Uma pequena informação para os nossos leitores com relação ao artigo sobre o fim do curso normal, Daniel em conversa com o professor Geraldo que já foi diretor desse estabelecimento, foi informado de que o Curso Normal do Moreira de Sousa está se acabando por falta de pessoas interessadas em se matricular. A procura diminui ano a ano, estando hoje com cerca de 30 e poucos alunos. Que pena!