Meu pai, muito devoto de São
Francisco, contava pra nós que assistiu ao lançamento da pedra fundamental do
Santuário de São Francisco em Juazeiro, em 6 de janeiro de 1950 e também a sua
inauguração, seis anos depois. No dia do lançamento da pedra fundamental, a
euforia reinava em toda população juazeirense, dia de muitos festejos, de
bandeirolas espalhadas no local, pois não havia mais dúvida da edificação do
majestoso santuário em homenagem a São Francisco das Chagas, obra dos frades capuchinhos. Naquele dia, após o
lançamento da pedra fundamental, já era noite quando aconteceu uma tragédia que
repercutiu por vários anos e obscureceu um pouco o evento, que foi o
assassinato de Monsenhor Joviniano Barreto. Monsenhor Joviniano vigário da
Paróquia de Nossa Senhora das Dores, padre íntegro, correto, fiel aos dogmas da
igreja, foi assassinado barbaramente com uma facada desferida no seu coração
por uma pessoa que, segundo foi informado na época, não possuía o juízo perfeito
e cujo nome é José Pedro da Silva. Ele pediu ao Monsenhor que fizesse seu
casamento com uma senhora que já era casada, e como ele se negou a atender seu
pedido vingou-se tirando-lhe a vida. Nos domingos papai gostava de passear
conosco quando éramos crianças e como não tinha opção de parques, de praças
para brincarmos, ele nos levava para passear no Passeio das Almas, nos
Franciscanos. Depois, era tradição visitar o santuário, olhar para o teto e
procurar a estrela que tinha o nosso nome. Meus irmãos se distraíam sentando
nos bancos, se escondendo nas colunas, mas o meu objetivo era encontrar a
estrela que tinha o meu nome, o pescoço doía, mas continuava insistindo com a
cabeça para cima, no entanto, a busca foi sempre inútil porque nunca encontrei
e até hoje, quando participo da celebração da santa missa, ainda a procuro. Um
pequeno esclarecimento para os leitores: as estrelas formam o forro da igreja,
e essas estrelas na época da construção foram uma estratégia para arrecadar
fundos para a obra. Quem comprava a estrela tinha o nome colocado, papai
comprou oito estrelas. Por essa razão meus pais então, se aproximaram mais dos
capuchinhos e em especial de frei Jesualdo, que se tornou grande amigo de nossa
família, frequentando nossa casa como visitante e como conselheiro. Frei
Jesualdo junto com frei Conrado e frei Virgílio
foram os missionários escolhidos como esmoleiros, os encarregados de
conseguir rendas para a execução da obra, denominados depois como três autênticas
colunas do Santuário. Frei Mirocles presidiu a construção do santuário,
organizando movimentos para a obtenção dos meios financeiros e como era um
perito entalhador confeccionou as portas do santuário e do convento. Foi o 1º
Superior da Comunidade dos Capuchinhos. Frei Francisco, o artista forjador do
santuário, em cujos ombros pesaram as responsabilidades maiores, da técnica e
arquitetura. Ele não só dirigiu, como trabalhou no sol e na chuva, pelos
andaimes da construção, carregando material, rebocando, medindo, instruindo e
aconselhando. As informações contidas com relação à construção, frade superior,
frades benfeitores, frade construtor, consegui no Suplemento Extraordinário de
A voz de São Francisco em comemoração a solene inauguração do Santuário que faz
parte do Arquivo do Portal de Juazeiro.
Para um maior conhecimento dos meus leitores o
santuário concluído gastou em mão de obra 560.000 horas de trabalho; 4.591
sacas de cimento; 10.500 quartas de cal; 49.088 quilos de ferro; 4.700 m3 de vidros;
3.050.000 de tijolos. Frente do santuário 110 mts; torre 50 mts; carrilhão
formado com 8 sinos. Uma excelente forma
que encontraram para dar continuidade à construção foi colocando à venda colunas, janelas, vitrais, portas
etc. Apelaram também às cidades circunvizinhas e à população de nossa cidade
com o seguinte pedido: “Fazemos um veemente apelo a todas as pessoas de boa
vontade, amigos ou devotos de são Francisco, para que ajudem aos Capuchinhos e
à população juazeirense a terminar o monumental santuário de São Francisco,
comprando alguma parte dessa igreja em construção”. Receberam como doação
tijolos, mosaicos, telhas, cimento, madeira etc. É de admirar que mais de cinquenta anos
depois da construção o forro (teto) continua em perfeito estado. As imagens que
se encontram nos altares e a de são Francisco são todas feitas em madeira e
vieram da Itália em navio.
Umas das minhas maiores alegria foi participar da 1ª
Eucaristia nesse santuário, em 8 de maio de 1958. Aquele tapete vermelho
enorme estendido da porta central até
próximo do altar e as crianças de ambos os sexos, enfileiradas em par
acompanhadas das suas catequistas, em busca dos seus lugares. Que cena
maravilhosa, até hoje lembro de todos os detalhes e da sensação jubilosa de neocomungante.
Outro fato acontecido comigo neste santuário, desta feita foi de muito medo.
Aluna do Colégio Menezes Pimentel, cursando o 4º ano, a professora Socorro
Duarte programou uma visita para que conhecêssemos o carrilhão da torre do
Santuário. A turma de alunos não muito grande, de 15 a 18 alunos, quando comecei
a subir as escadas o pavor tomou conta de mim, ao ver as cordas penduradas e o
espaço muito pequeno para subir. Cadê a coragem? Quis desistir, mas dona
Socorro muito enérgica disse: “Neuma, você vai subir, não vou deixá-la sozinha
aqui embaixo. O coração palpitando até a goela e as pernas como geleia foi
dessa forma que subi, no topo todos admirados observando a vista da cidade e eu
encolhidinha, tremendo que só vara verde, não apreciei o passeio, para mim foi
uma verdadeira tortura, hoje conto sem traumas, mas naquela época, criança
ainda, o medo foi grande. Amigos que nos visitam, fazemos questão de mostrá-los
essa preciosa joia da arquitetura em estilo romano. Temos imenso orgulho que os
nossos amigos visitantes conheçam a lindeza dessa igreja. E em reconhecimento e
gratidão por Juazeiro tê-los acolhido e atendido com prontidão aos seus apelos
na construção do santuário, frei Virgílio, que participou da construção como
esmoleiro, e por seu grande amor ao Juazeiro, idealizou e construiu um presente
imponente e valiosíssimo por ocasião do seu Centenário de Juazeiro, que são as artísticas estações da Via Sacra e os
mistérios do Rosário da Santa Mãe de Deus, tendo como engenheiros da obra,
Francisco Tadeu Coelho Bezerra e Felipe Neri Coelho. Cada quadro foi doado por
pessoas amigas e por instituições. O calçamento em derredor das estações na
Praça das Almas foi tudo obra sua, o empenho e o esforço foram grandes, mas
valeu a pena deixar essa obra que perdurará por séculos. E é necessário que se
diga foi uma das poucas obras que ficaram para lembrar o Centenário da Independência
de Juazeiro. E viva frei Virgílio por deixar marcado com tão belo cenário a
Praça das Almas!
Quadro da Via Sacra e carrilhão |
Interior do Santuário |
Passeios das Almas |
Vitrais e teto com estrelas com nomes dos benfeitores |
Frei Francisco, Frei Mirocles, Frei Conrado, Frei Jesualdo e Frei Virgílio |
Fotos históricas da construção do Santuário |
Nesta foto, eu quando criança (8 anos) acompanhada de minha prima Lizieux e papai (Luiz Pereira e Silva em frente ao Santuário de São Francisco |
MENSAGENS RECEBIDAS SOBRE O TEMA
DA COLUNA ANTERIOR
"O Ensino Normal é uma
necessidade, pois não existe ninguém melhor do que a normalista para lidar com
crianças em fase escolar." - Concordo com essa sua assertiva. Necessidade
que abre lacuna pedagógico-didático-disciplinar."
Eurides Dantas, Juazeiro do Norte
Olá minha prima, boa tarde!
Fazia algum tempo que não lia
seus artigos em sua coluna, e hoje resolvi fazer como Bial "dá uma
espiadinha"... E de repente me deparo com as delícias de sua culinária e o
nosso tão famoso pavê. Sem contar com os outros artigos sobre dona Amália, dona
Valba e dona Nilmar. Como sempre, uma homenagem muito bonita e merecida. E o
seu Baú então!... Esse parece que é sem fundo, desses de mágico, que não para
de surgir coisas interessantes que ficaram em nossa memória. Adorei tudo!
Continue assim nos levando ao
mundo do passado.
Um grande beijo,
Marleide Barbosa Guimarães, Fortaleza, Ceará
Nota da Colunista: Uma pequena
informação para os nossos leitores com relação ao artigo sobre o fim do curso
normal, Daniel em conversa com o professor Geraldo que já foi diretor desse
estabelecimento, foi informado de que o Curso Normal do Moreira de Sousa está
se acabando por falta de pessoas interessadas em se matricular. A procura
diminui ano a ano, estando hoje com cerca de 30 e poucos alunos. Que pena!