Tomei conhecimento que o Curso
Normal da Escola Moreira de Souza está em vias de extinção, estando hoje com
poucos alunos. Meu esposo, Daniel Walker, que estudou e foi depois professor da
Escola Normal, me disse que na década de 70 a escola vivia o seu apogeu, com oito salas
de aula só no primeiro ano, formando anualmente dezenas de normalistas,
diferente da primeira turma (1937) que só tinha cinco diplomandas, cujos nomes
são: Heloísa Coelho Alencar, Maria Martins Camelo, Maria Moreira, Maria Ceci
Borges e Dacilde Sobreira Cruz.
Que lástima! Um colégio de
renome, que é sucessor da primeira Escola Normal Rural do Brasil, inaugurada no
dia 13 de junho de 1934, um mês antes do falecimento do Padre Cícero que foi um
dos seus fundadores. Em 2014 completaria 80 anos de fundação. Quantas gerações
foram diplomadas por essa escola. Quantas alunas fizeram o Normal e exerceram o
magistério com tanto amor. Quantos segredos, sonhos, aflições, confidências
aconteceram nos bancos escolares. Muitas alunas se tornaram professoras desse
conceituado estabelecimento de ensino e algumas até chegaram a assumir o cargo
de diretor, como é caso de dona Valba
Gondim de Sousa, que semana passada comemorou seus 80 anos de idade. Dona
Amália foi a diretora que passou mais tempo na direção da Escola Normal Rural e
dona Valba foi a que passou mais tempo na direção do Moreira de Sousa. Em sua
gestão, dona Valba trouxe de volta a farda antiga da Escola Normal, a qual
marcou época: saia de cor vinho, gravata da mesma cor e blusa branca. Havia
também uma farda especial para o período do Estágio, coisa muito chique! O
Ensino Normal é uma necessidade, pois não existe ninguém melhor do que a normalista
para lidar com crianças em fase escolar. O conteúdo da grade curricular das
normalistas é muito rico em Sociologia, Psicologia, Filosofia, Ciências,
Português, Matemática, Educação Artística e Didática, afora o Estágio. Estas disciplinas
as instruem para saber lidar e compreender o pequeno ser que irá passar por
suas mãos. O professor primário como era chamado antigamente precisava atender a
todos os requisitos como Estágio de observação (assistir aulas em outras
escolas); Estágio supervisionado, dar aulas durante uma semana e finalmente o
estágio supervisionado de um mês, no qual a professoranda era a regente da
classe. O professor titular deixava à sala e ela assumia a sala de aula. A
professoranda, portanto assume o seu verdadeiro papel, que é o de mestra. A sua
capacidade de doação é nesse momento testada. Necessário se faz a presença da
professora-orientadora, aquela que acompanhou e orientou todos os passos para o
melhor desempenho do estágio. Lembro-me que a professora Nilmar Belarmino
assumiu esse cargo na Escola Normal durante um bom período. Foi uma excelente
orientadora. Exigente, cobrava de suas alunas o melhor, não aceitava deslizes,
indisciplinas ou faltas. Cobrava com muito rigor o relatório do estágio. Fazia
questão de visitar suas alunas todos os dias em suas salas de aula. Quando a
aluna está estagiando expõe todo o material que desenvolveu e preparou durante
dois semestres, o material didático como é chamado. Consta de cartazes, jogos,
chamada, diário, fichas, planos de aula. Um ano intenso de atividades, muitas
responsabilidades, mas o importante de tudo isso é a conclusão do curso. O recebimento
do diploma para exercer a profissão. Uma profissão que talvez não seja tão
aplaudida, tão reconhecida, porém o que não se pode negar é que todas as outras
profissões dependem do professor primário. Aquele que colocou os pontinhos
formando uma letra para que a criancinha unisse; cobrisse as letras; ensinasse
o alfabeto; os numerais; a juntar as palavras e iniciar a leitura. Sei que para
o professor do pré e dos primeiros anos conquistar a afeição e apego das
crianças que estão iniciando sua vida escolar é uma tarefa não muito fácil. As
crianças são tiradas do seio materno, de sua rotina do lar e precisam ser bem
acolhidas para que não cheguem a conduzir traumas para o resto da vida. Por
isso é necessário que o professor primário se identifique com as disciplinas
que irão nortear todo o desempenho do seu trabalho. E assim, cada dia mais o
mundo moderno incorre em erros, não deixando fincar marcas de afinidades, de
disponibilidade. O que vigora nos nossos dias é a rapidez dos acontecimentos e
as mudanças radicais no sistema de ensino, prejudicando de certa forma o
alunato infantil. A figura do professor
primário não pode ser negligenciada; mesmo na era da informática a confiança do
aluno no professor precisa continuar. Pois, só assim teremos uma juventude
solidária, enraizada nos conhecimentos que adquiriu e aprendeu nos seus
primeiros anos de escola. Este é o meu protesto diante do que está determinado,
o fim iminente do Curso Pedagógico do Centro Educacional Professor Moreira de
Sousa, escola essa que já foi motivo de muito orgulho para nossa cidade. Não
sei exatamente porque o curso está se extinguindo, então seria bom que o Crede
desse uma explicação oficial ao público explicando as verdadeiras causas.
Dona Amália, dona Valba e Nilmar