domingo, 13 de maio de 2012

Dia das mães, dia de homenagens



Como hoje o dia é dedicado às mães do mundo inteiro, aproveito a oportunidade e apresento-lhes minhas três mães: a que me deu a vida, que me trouxe à luz, Zeneida (mulher que pacientemente com o seu espírito de mulher guerreira e temente a Deus suportou galhardamente os infortúnios que a vida lhe reservou); Munda (Raimunda) que cuidou de mim e dos meus irmãos quando mamãe ficou viúva e não pôde dar aos seis filhos a necessária assistência devido a depressão que a acometeu com a morte do meu pai; e  dona Maria, minha sogra, que me deu muitos ensinamentos com relação a uma convivência feliz no casamento e que me adotou  como uma verdadeira filha. A elas que já partiram para uma outra vida, a vida celestial, dedico-lhes o meu eterno amor. No caso particular de minha sogra, manifesto minha homenagem através de uma forma prazerosa e engraçada que fui buscar no opúsculo intitulado Histórias de Almeidinha, com que meu cunhado, Carlos Alberto, presenteou sua mãe e minha sogra por ocasião dos seus noventa anos e cuja capa é mostrada na foto abaixo. Pouca gente conhecia o lado humorística dela, das coisas engraçadas que dizia, das gafes que inocentemente, sem nenhuma maldade ela cometia. Relato duas gafes contadas por Carlos Alberto as quais serviram de muita gozação e de muitas risadas por parte de seus familiares.

                                                       O TIRO NA IGREJA
            
             Mamãe e Ozenir (minha esposa) estavam assistindo à missa do final da tarde no interior da igreja do Socorro. A igreja estava cheia e elas estavam em pé, atrás da última fileira de bancos. Eis que, em um dado momento, mamãe ouviu um som, tipo um grito lamentoso. Assustada, imediatamente mamãe gritou: “É tiro!”, e saiu correndo na direção da praça. Ozenir, sem entender o que houve, saiu também correndo atrás dela. Rapidamente, elas notaram que ninguém as seguia. Elas estavam correndo sozinhas. Foi então que mamãe parou, virou-se para Ozenir e falou ofegantemente: “Você não ouviu?... Para mim era um tiro”. Ozenir, então, rindo sem controle, disse-lhe que foi apenas um pobre velhinho que sofreu um ataque de epilepsia, caiu do banco e ficou se contorcendo de dor. Após a explicação, não deu mais para elas voltarem para a igreja e seguiram rindo, baixinho, para casa.
                                                 
                                                         A TROUXA

                No final de dezembro de 1973, meus pais, Ozenir, Jorge Luiz, Lou e Zé  Maria foram a Recife assistir à minha formatura. Ficamos todos no apartamento de Lilia, minha cunhada. Nesse tempo, eu já estava casado com Ozenir e ela estava morando com meus pais em Juazeiro. Ficou planejado que, após a formatura, todos voltariam para Juazeiro  e Ozenir ficaria morando comigo em Recife. Mas não deu certo, e Ozenir teve que voltar.
                 Então, estávamos todos na Rodoviária de Recife, naquele clima de tristeza, normal de despedida, mas agravado pelo fato de que os planos não tinham dado certo. Não tínhamos conseguido passagem no mesmo ônibus para todos e papai teve que ficar para ir em outro ônibus, que sairia duas horas depois. O quadro era esse: mamãe, Ozenir, Lou, Jorge Luiz e Zé Maria no interior do ônibus. Ozenir numa cadeira da janela numa indisfarçável tristeza, mamãe noutra cadeira, de frente, também na janela, triste e preocupada porque papai viajaria sozinho. Eu e papai ficamos na plataforma de embarque, conversando e aguardando a saída do ônibus, junto com várias outras pessoas. Papai ficou de levar como bagagem apenas um saco de pano com algumas peças dentro. E como sempre foi despreocupado, o saco estava no chão, ao seu lado. Mamãe, temendo que papai esquecesse  volume, gritou de dentro do ônibus: “Zeca segura a trouxa”. E, achando que papai não tinha ouvido, gritou: “Ô, Zeca, não esquece de trazer a trouxa”.  Foi uma gargalhada geral, por parte dos passageiros e das pessoas que estavam perto de nós na plataforma de embarque, pois em Pernambuco, como no Ceará, trouxa além de ser um saco de roupas, é também mais uma denominação do órgão genital masculino.

Carlos Alberto tem catalogada quase uma centena de “causos” com dona Maria Almeida e no opúsculo de estréia ele escreveu o seguinte:

Neste dia em que comemoramos os noventa anos de idade de mamãe, quero prestar-lhe uma homenagem diferente. Resolvi relatar algumas das noventas historinhas curiosas que têm mamãe como protagonista e as quais eu presenciei ou ouvi contar. Em todas essas passagens, podemos identificar traços característicos de sua personalidade. Fazendo uso da intimidade de que possuo como filho, posso enfatizar essas características que somadas às suas infinitas qualidades, constituem um conjunto harmonioso que a torna uma pessoa extremamente especial. Procurei desde o início achar uma palavra que resumisse todas as suas qualidades e características, mas não encontrei. Portanto, para mim ela é simplesmente Especial.
            Mamãe, além de ser a melhor mãe do mundo, é também muito boa como esposa, avó, bisavó, sogra, cunhada e amiga. É amorosa, dedicada, compreensiva, tolerante, pacificadora, conselheira, atenciosa, tem boa conversa, religiosa, trabalhadeira, boa cozinheira, pessimista, assustada, não gosta de festa, não gosta de fazer aniversário, não gosta de viajar de carro, tem medo de água, gosta de  novela, sempre quis ter na casa (sendo uma para uso e uma de enfeite) duas cozinhas, dois banheiros, duas salas, gosta de fazer renovação e gosta de broa.
             Nas histórias a seguir podemos identificar várias dessas suas características.
Na  sequência: eu com mamãe, Munda e dona Maria.