sábado, 25 de agosto de 2012

A bicharada da minha infância

25.08.2012


Nos passeios e viagens que tenho feito sempre encontro algo que desperta motivação para escrever. Desta feita foram fotos e animaizinhos ao vivo que me fizeram voltar ao tempo, trazendo-me alegria em lembrar de minha infância tão contagiada com a presença de animais (insetos, aves e peixes). Passamos um dia desses no Caldas com as netas e os pais delas, e lá ficamos debaixo de uma árvore próxima de uma das piscinas que a criançada adora, de repente surge uma fileira de saguís (as pessoas geralmente chama soim), bem juntinhos, em busca de comida. Tive coragem de me aproximar e colocar banana na boca de um deles. Contei então para minhas netas como era a casa dos meus pais. Ela se localizava na Rua São José e terminava na Rua Santa Rosa. A casa construída na Rua São José e o quintal muito extenso ia até a Rua Santa Rosa. Na metade da extensão do quintal, existia um viveiro enorme, sendo dividido em duas partes. Numa parte acomodava dois saguís, que passavam o dia todo se balançando em um balançador, feito de um pedaço de madeira e nas pontas cordas que eram pregadas no teto do viveiro. Era engraçado quando colocávamos a banana pra eles, rápido eles tomavam de nossas mãos e engoliam quase inteira. E depois, ficavam limpando as mãozinhas e pedindo mais. E quando um deles resolvia catar piolho na cabeça do outro, me extasiava olhando aquela imagem de seres irracionais, mas que tinham o instinto do carinho, do afago. O que oferecia a cabeça aceitava o agrado todo dengoso. Na outra parte do viveiro várias espécies de passarinhos nos alegravam com os seus gorjeios. E o casal de arara de cor amarela com azul, tinha sua casinha de alvenaria e com uma porta de arame. Elas gostavam de passear pelo quintal, de pegar cajaranas do chão e ficar chupando. Levantavam a cabeça para que o suco descesse por suas gargantas sem perder nada. E ainda roíam o caroço. Quando o chão estava quente corriam para a casinha, para não queimar os pés. O papagaio que cantava Ave Maria, ficava pendurado no seu poleiro e algumas vezes enganchava o pé na corrente, e tínhamos que salvá-lo. A corrente encurtava e a posição de ponta cabeça o incomodava demais. O lago redondo com pedrinhas pregadas na parte de cima. Viviam felizes dois casais de marrecos de cor marrom claro com bico vermelho, uma marreca chamada de viuvinha por ter a penugem escura, uma patola e um paturi. Passavam o dia todo nadando de um lado para o outro, tão felizes. Depois, à tardinha já exaustos, saíam da água e ficavam balançando as asas para escorrer a água e deitavam nas pedrinhas do lago. O pombal, que lindeza, várias casinhas construídas em alvenaria e com o primeiro andar e lá viviam pombos de penas brancas, de penas misturadas com marrom e de penas pretas com branco. A gente gostava de observar o acasalamento, o pombo todo faceiro dando o ar de sua graça para a pomba. Algumas não davam bolas para os pretendentes. Beliscava, voava e entrava na casa. E quando nasciam os filhotes bem peladinhos, só tinham grande a cabeça. O pai cuidava do filhinho e a mãe ia pegar comida. Quando já estavam crescidinhos, chamados de borrachudo, já era um petisco. Antônio Luiz (meu irmão) era craque em matar os coitadinhos dando uma pancada na cabeça com um pauzinho. Tinha muito dó deles sendo sacrificados e depois preparados e fritados por Munda para matar o desejo dos meninos, nessa hora eu pecava comendo uma perninha, pois não resistia. Como era bom conviver com essa fartura de coisas lindas criadas por Deus! Nessa nossa última viagem visitamos a Estação Ciências, em João Pessoa. E na visita me deparei com um quadro de uma borboleta, não sabia o nome dela, mas a acho muito linda e em minha casa cliquei sua foto pousada numa planta. Imediatamente me veio a mente as lindas borboletas que pousavam nas plantas do jardim e do quintal da casa dos meus pais, não me cansava de contemplá-las. Mas, os irrequietos meninos (meus irmãos) e os meus primos tão malvados, caçavam as borboletas com um pedaço de pano ou toalha e matavam as bichinhas, com a invenção que ia colecioná-las. Ah! Lembrei agora das abelhas, mamãe as criava em caixotes de madeira. No dia de colher o mel, as abelhas ficavam assanhadas e sempre nos ferroavam. O sistema era muito arcaico, atiçava fogo em uma vassoura e quando estava com bastante fumaça colocava nos caixotes, as coitadas estonteadas, fugiam e muitas morriam. Que malvadeza! Hoje, é bem moderna a maneira de retirar o mel, não se sacrificam as abelhas como antigamente. No lago do jardim, mamãe colocou alguns peixes da espécie chupa pedra, não conseguíamos distingui-lo das pedras, e sua função era limpar o lodo que se acumulava nas paredes do lago. Sentava-me na beira do lago e ficava admirando o seu belo trabalho. Depois de muito esforço, eles paravam e colavam nas paredes, durante horas e horas.O viveiro feito de arame na forma de uma casinha, de cor prateada, repleto de periquitos australianos, de muitas cores: verde, amarelo, azul, branco. O barulho era infernal, quando todos resolviam cantar na mesma hora. Minha paciência ia a zero, principalmente na hora de estudar. O viveiro tinha que ficar dentro de casa, pois surgia muito gato traiçoeiro no quintal e surrupiava os agitadores, como dava pena encontrar somente as penas. Os matreiros gatos da vizinhança não davam trégua, todo cuidado era pouco. Não posso deixar de lembrar de minha galinha Mimosa, presente recebido de dona Rosinha das galinhas, moradora da Rua Santa Rosa. Mamãe, suas irmãs (Maroli e Odete) e sua cunhada (Suleta) eram freguesas constantes dela. Compravam geralmente, frango ou capão. Galinha não tinham interesse, diziam que a carne era dura. Sempre acompanhava mamãe quando ia comprar. Interessante a forma de ver se o bicho estava sadio, se era gordo, se tinha gogo. Pegava no pescoço e assoprava no final do pescoço para saber se estava gordinho. Apertava o bico, caso saísse um líquido estava com gogo, não se comprava. Nos dias atuais é difícil a gente encontrar os vendedores de galinha caipira ou de capoeira. O frango de granja tomou conta do mercado. Não posso deixar de mencionar outros animais que existiam no mesmo quarteirão de nossa casa, na casa de doutor Feitosa e de dona Heloísa, esquina com a Rua Santa Luzia, hoje nesse local está instalada a Policlínica de Juazeiro Ltda. Mamãe muito amiga dela, sempre a visitava e a gente gostava de acompanhá-la para ver os animais de lá, bem diferentes dos nossos. A preguiça trepada no pé de benjamim; os camaleões circulando pelos arredores da casa; os cágados e jabutis que gostavam de se esconder nas moitas; a anta, animel enorme com uma pequena tromba; a cobra jiboia que vivia presa num viveiro e as emas enormes, de pernas grandes e finas, que se exibiam desfilando em derredor do jardim. Atualmente, devido o desmatamento, o vandalismo e de atos que prejudicam ao meio ambiente não é mais permitido criar animais dessas espécies em cativeiro. Muitos foram extintos e só os encontramos em fotografias expostas em museus, em exposições ou em livros. Ao contar para vocês, caros leitores, estas minhas lembranças, sinto o sabor maravilhoso de um tempo feliz. 


 
    
E-MAILS RECEBIDOS 
Olá querida prima.
Não poderia deixar de aproveitar esse espaço, para   mais uma vez lhe parabenizar pela iniciativa do "Bazar Solidário" que foi um sucesso. Como já disse no facebok,compartilhando essa sua coluna maravilhosa. Assim como Heloísa disse: "que tem orgulho dos avós,  eu tenho um imenso orgulho de ser sua prima/irmã. Foi muito bom ver o empenho de todos seus colaboradores: Francisquinha, Luana, Isadora, Heloísa, Yolanda, Analuce, Juliana, Paulo, Danielzinho etc.
Parabéns mesmo!
Um grande beijo.
Que Deus lhe abençoe.sempre!
Marleide Fernandes Guimarães, Fortaleza, Ceará
   
Querida irmã,
Parabéns por esta bela iniciativa e que Deus lhe abençoe.
Atenciosamente,
 Paulo Airton. Tauá, Ceará

Minha prima querida!!
 Parabéns! Não poderia ser diferente.
Beijos,
Mirna, Fortaleza, Ceará

Parabéns! O sucesso do Bazar Solidário é mesmo fruto de quem reúne valores e abraça com determinação a causa do irmão necessitado. Glória a Deus nas alturas e muita Paz a você, que voluntariamente, abraça a causa do irmão necessitado, criando alternativas dignas de admiração. Fiquei comovida com seu exemplo e muito feliz por ter atingido suas metas. E mais ainda com a declaração de amor "Divino" de sua neta Heloisa, muiiiiiiiiiito linda.
 Sua amiga, Socorro Aguiar
Rio de Janeio, RJ

Neuma,
O desapego é o primeiro passo que se dá em busca da santidade. "Não junteis tesouros na terra." Sinto-me engrandecido também por este ato de amor e solidariedade para com aqueles que necessitam do nosso supérfluo.
Deus abençoe você por esse gesto, minha irmã querida do meu coração. Um dia - no céu - você entenderá o que o seu despojamento representou para o Senhor Jesus.
 Beijo grande meu, da Aldinha e da turma.
Fique com Deus.
 Antonio Luiz Macêdo, Fortaleza, Cea


Neuma, cada vez mais você me surpreende, essa agora de você se despojar de seus objetos ornamentais que tanto você gosta, é um gesto tão sublime minha prima, indescritível... Que Deus lhe dêr muitos anos de vida, com saúde e paz para que continue edificando esses seus projetos tão nobres. Gestos como esses precisam ser copiados. Parabéns!
Sua prima,
Socorro Romão, Juazeiro, Ceará

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