Marcos e sua burrinha Branquinha |
Em um dia desses, vindo da missa matinal da Abadia de Nossa Senhora da Vitória, percebo uma pessoa acenando para mim. Baixo o vidro do carro e reconheço o rapaz que me vendia estrume quando morava na Rua Santa Rosa, José Ferreira de Araújo, mais conhecido por Marcos. Paro o carro, cumprimento-o e ele muito sorridente oferece a mercadoria que leva na carroça. Estrume ensacado em vários tamanhos. Peço que me acompanhe, pois encontro-me já bem próxima de minha casa. E assim ele fez. Entro em casa e peço-lhe que entre para avaliarmos a quantidade que vou precisar para adubar muito bem a grama e as flores. Antes, noto que ele para o animal com delicadeza e amarra-o no pé de Nim que tenho na frente da casa. Fiquei intrigada e comentei com ele: "Você parece que cuida bem direitinho do seu bichinho".
Ele olhe pra mim e responde rindo: "Ah! É verdade, tenho duas burrinhas, esta chama-se Branquinha ou Boneca e a que está lá em casa, chama-se Morena. No local do depósito do estrume, tem o cercado delas, com árvores e as cocheiras com água e a comida. A primeira tarefa que faço quando levanto é colocar a água e a comida das bichinhas".
Continuei a conversa e ele disse: "Estou contando que vai me comprar a mercadoria toda, e a Boneca vai pra casa sem peso nenhum". Respondi: "Marcos, meu jardim não é tão grande, o que você carrega na carroça é demais".
Pedi-lhe que espalhasse na grama os sacos que negociei e quando finalizou o trabalho, fiz-lhe a seguinte pergunta: "Marcos, você se incomoda que eu escreva sobre o seu trabalho e sobre a maneira como você trata os seus animais, porque me entusiasmei com a sua maneira de ser".
Ele perguntou: "Como assim?".
Expliquei o que pretendia escrever, contar a sua história. Como iniciou esse trabalho e quem o incentivou. Muito feliz, ele respondeu: "Claro, pode contar. Comecei desde pequeno, com quatro anos apenas a acompanhar o meu pai, Augusto Tomás Ferreira, na sua lida de carroceiro. Ele sempre trabalhou com animais. Nasci no Sítio Caboclo em Aurora. No ano de 1989, meu pai resolveu se mudar para Juazeiro. Em 1996, ele recebeu uma herança de sua mãe e comprou uma casinha na Rua Estelita Silva, bairro Limoeiro. O seu trabalho com a carroça era pegar frete de lojas e de depósitos de construção. As coisas começaram a minguar e ele desanimado pensou em desistir da profissão. Conformei-o dizendo: Pai, quando o senhor chegar à tarde, vou dar uma voltinha para ver se consigo algum frete de entulho, quem sabe! Vou tentar. E assim fiz. Sempre pegava o animal quando ele chegava e dava uma volta pelas redondezas e oferecia para os moradores o meu serviço, quando via lixo e restos de material de construção. Um certo dia, Deus iluminou o nosso caminho. Uma senhora muito educada aceitou que retirasse o entulho da sua porta e me pagou R$3,00 (três reais), fiquei muito alegre. E quando ia me retirando, ela perguntou se eu podia arranjar um saco de estrume, pois estava precisando para colocar no seu jardim. Respondi que ia dar um jeito. Cheguei em casa e falei para meu pai o que a senhora pediu. Meu pai foi em uma vacaria próxima e ganhou do proprietário três sacos. Levei o da senhora e os outros dois, vendi. Daí por diante não foi necessário pegar frete, tomei a responsabilidade de vender estrume. Resolvemos da seguinte maneira. Pai, o senhor pega o estrume na vacaria, coloca no sol para curtir, molha bem. E eu me encarrego de ensacar, pesar, amarrar e passar nas ruas vendendo. Foi um tiro certo. Fiz a freguesia, já sou bem conhecido. Meu pai querendo diminuir o meu trabalho propôs, que vendesse em um carro de caçamba, respondi pra ele: Não, pai foi com os bichinhos que conseguimos vencer e progredir. O carro é para passeio e houver uma necessidade. Branquinha e Morena vão continuar nos ajudando".
Que Deus conserve vocês sempre assim e que este exemplo de cuidar e zelar bem os animais seja seguido. Prosperidade Marcos e sucesso.
Quem quiser comprar estrume a Marcos eis os contatos: 88 999367091 ou 88 988565367
Marcos e sua mãe, Teresinha Maria do Sacramento |
Marcos e seu pai |
Morena em seu recanto |
Gostei da crônica, embora nunca tenha visto esse Sr.Marcos nem suas burrinhas. É que, tendo saído de Juazeiro há mais de quarenta anos, perdi muitas referências interessantes do cotidiano e certos tipos aí existentes, personagens do cenário atual. Mesmo assim, bate uma saudade estranha, aparentemente sem causa. É que, lá no fundo, fico me lembrando de outras figuras do tempo de minha meninice e juventude, como Doca, João Remexe o Bucho e Tetê, p.ex.
ResponderExcluirUma história de sucesso. Que bom, Daniel, você ter dedicado sua "tinta" para uma pessoa humilde, que não é um político, não é alguém da alta sociedade, mas uma pessoa que se tornou um empresário de sucesso, que zela com humanidade seus animais, e fez sucesso com sua lida. Você retratou o Sr. Marcos, que é exemplo para todos nós outros, é modelo para a nossa vida.
ResponderExcluirJáder, o texto é de Neuma e não meu. A Coluna dela fica no portaldejuazeiro.com.
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