domingo, 2 de dezembro de 2012

Meus bichinhos de estimação que já se foram


Em setembro de 1992 fui junto com Maria Duarte (Maria que morava com meus sogros) buscar na casa de seu Ézio e dona Vilani, moradores da Rua São José, bem próximo do Colégio Salesiano, um gatinho todo branquinho. Quando surgiu a vontade de ficar com ele? Participávamos (Daniel e eu) na casa desse casal de uma reunião do ECC, quando vejo um monte de gatinhos recém-nascidos, achei-os lindos, principalmente um todo branquinho, demonstrei interesse em adotá-lo, mas dona Vilani disse: “Estão muito novinhos, daqui a um mês você pode vir pegá-lo”. E assim o fiz. Quando o peguei, ele abriu os olhinhos, a coisa mais linda e bocejou. Que alegria, fiquei fascinada, foi amor à primeira vista. No caminho fui dizendo para Maria que o nome dele seria Milk por ser muito branquinho, da cor de leite. Ao chegar em casa coloquei-o no chão e fui preparar uma caixinha para acomodá-lo, entretanto ele zangou-se e começou a miar. Coloquei leite morninho e nada, não quis nem saber. E o miado continuou, Daniel chegou do passeio que sempre fazia aos sábados na companhia do saudoso amigo Mons. Murilo. Daniel inclinou-se até ao chão e lhe acariciou, ele ficou bem quietinho e parou de miar, o que ele queria mesmo era colo, estava sentindo a falta da mãe. Os miados continuaram por uns dois dias, depois ele foi se acostumando, colocava perto dele um cordão e ele tentava segurar, era uma graça. À medida que o tempo passava, o blanquinho, como gostava de chamá-lo ficava cada dia mais sabido. Ficava escondido debaixo das camas, se deixasse o armário aberto era certeza se meter por lá. Corria pelo quintal, pelo jardim, subia nas árvores, como me divertia muito com suas traquinagens. Michel, meu filho, muito matreiro, achou pouco a minha preocupação com o sapeca felino e trouxe uma cadelinha muito lindinha de apenas vinte e cinco dias, dizendo que deixasse ela dormir apenas nessa noite em minha casa. Kátia e Jairo, quase nossos vizinhos nessa época, sua cadelinha tinha parido três cachorrinhos; um o professor Edilson adotou-o e ficaram dois, um dos quais era a cachorrinha que Michel trouxe. Questionei imediatamente, não quis de forma alguma aceitá-la, mas ele insistiu tanto que cedi, foi aí a minha ruína. Em primeiro lugar Milk não gostou da ideia, ficou emburrado, só aparecia  para comer. No dia seguinte me preparei para devolvê-la, porém a cadelinha ficava cheirando meus pés, para onde eu ia ela me acompanhava, travessa, já sabia como me conquistar. Mesmo assim a disposição de entregá-la era certa. Michel chegou, e fui logo dizendo que já estava na hora de levá-la para seu dono, ele olhou para mim e disse: “Mãinha a senhora não gostou dela, ela é tão carente e fará companhia para Milk”. Respondi que não, ele não tinha acatado a ideia de ser passado para trás. Daniel olhou para a bichinha e disse: “Neuma, você não gostou dela? Eu vi você colocando-a no braço, isso é sinal de que ela lhe cativou! E soltou uma gostosa gargalhada, fazendo charminho para que a aceitasse. Fiquei num beco sem saída, dois contra um, Michel e Daniel, e para completar o olhar pidão da cadelinha que já balançava o rabinho toda contente para mim. Entreguei os pontos e resolvi adotá-la, Kátia e Jairo tinham colocado o nome de Brahma, diziam eles que quando ela começou a andar era como uma bebinha, tentava se segurar e pendia para um lado, quando se levantava pendia para o outro lado, então aceitamos o nome. Milk muito arredio não se aproximava dela, ficou todo ciumento e quando me via com ela, miava e se esfregava em minhas pernas. Após uns dois ou três dias a amizade entre eles começou, brincavam o dia todo. Ela pulava em cima dele, mordia e ele não revidava, era muito divertido vê-los brincando. Aconteceram dois episódios que nos emocionaram muito e que demonstrou o grande amor que Brahma tinha por mim. No dia do falecimento de mamãe, quando recebi a notícia fiquei inconsolável, chorando muito e ela ficou o tempo todo ao meu lado, e não deixava ninguém aproximar-se de mim, quando os amigos me abraçavam ela latia desesperada, só ela podia me consolar, querendo ficar no meu colo e o tempo todo a me lamber. O outro fato, sempre no sábado à tarde ficava sozinha em casa. Daniel ia para a casa de padre Murilo, Michel ia ensaiar com a banda e Daniel Junior saía, e aconteceu que fui retirar da estante uma caixa e quando puxo cai uma pedra redonda de mármore da mesinha do telefone, só em pensar ainda sinto a dor, grito e não consigo puxar o pé, ficou preso e a dor lancilante me fez gritar muito forte, a danadinha procura socorro e começa a latir, não aparece ninguém, ela corre até o jardim e volta para perto de mim. Consigo me levantar e me dirijo à geladeira para pegar gelo e colocar no dedo, sento, ponho o gelo e gemo de dor, o dedo ficou logo roxo. Ela percebe minha aflição e corre novamente para o jardim, e late, mas nada. Vem para perto de mim e quando Daniel chega, ela se anima, querendo dizer chegou o salvador, balança o rabinho e se acomoda. Tive que ir para o hospital e engessei o pé, quando cheguei ficou cheirando o gesso para me agradar. Quando adoeceu levei para sua veterinária dra. Wilna, ela fez exame de sangue e constatou que Brahma estava com diabetes, que tristeza. Perdeu peso, tomava o medicamento, mas com tempo foi definhando, definhando até que chegou o dia de levá-la para a clínica para que ela não voltasse mais. Fiquei arrasada, chorei por uns quinze dias, sentindo a falta da minha cachorrinha, tão mimada, ela dormia no nosso quarto numa rede-berço, toda enroladinha por causa do ar condicionado. Senti também sua falta no portão, quando ela escutava o barulho do carro vinha nos esperar. E do ciúme que sentiu de minha primeira neta, Heloísa, ficava toda cismada e latindo. E dos passeios de carro, gostava de ficar no meu colo com a cara na janela que as orelhinhas balançavam. E dos passeios pela rua pela manhã, quando chegava perto da gaveta que estava sua coleira já entendia e corria para o jardim e ficava me esperando. O deus nos acuda era no dia do banho, tinha que pegar o sabonete, a toalha, a escova, colocar a água na pia, sem que ela percebesse, pois se sentisse que era para banhá-la se escondia debaixo das camas e não queria sair de forma alguma. Dez anos gozamos da companhia sincera e amiga desse animal que sabe conquistar o seu dono. Milk continuou conosco por mais quatro anos, porém ele sentiu muito a falta de Brahma, ficava procurando nos quartos, na sala que ela gostava de ficar deitada, cheirando os locais que ela costumava ficar. Depois, foi se acostumando e viveu conformado por mais de três anos. A idade foi avançando e o apetite foi diminuindo, perdeu peso, passava a maior parte do tempo dormindo. Não brincava mais, não se animava como antigamente. Fizemos uma viagem e quando voltamos ele nem se levantou do lugar em que estava, estranhei e falei para Daniel: “Bem, Milk nem veio cheirar minhas pernas e nem sequer miou, acho que ele está doente!”. Realmente, no outro dia chamei o veterinário, ele veio até aqui em nossa casa, dr. Wendy Gonçalves, durante uma semana aplicou injeções, mudou a alimentação e nada dele responder ao tratamento, nem abria mais os olhos. Fiquei logo triste, dizendo para mim mesma, mais um amiguinho que vou perder. Combinei com Daniel, saí de casa e ele ligou para a clínica veterinária e o meu blanquinho saiu também da minha vida, deixando muitas lembranças e saudades. Lembranças que alimentei com fotografias e revivo tudo novamente quando a saudade aperta. Hoje, não quero mais nenhum animal, poupo-me de grandes tristezas e quero também curtir minhas viagens sem nenhuma preocupação.









Um comentário:

  1. Confesso-lhe, Neuma, que a leitura do seu texto mexeu comigo. É que também tenho uma paixão: adoro pássaros, especialmente o curió, cuja etimologia esclarece que seu significado é "amigo do homem". As aves, como o cão e o gato, nos escravizam. Às vezes, renuncio a uma viagem de recreio por causa deles, quando não encontro que os trate com o mesmo carinho. Há um ano, desfiz-me do meu plantel de curiós, em virtude de uma mudança de residência. Foi um suplício para mim. Minha mulher negou-me piedade: "Não os levará; não há espaço para eles". Fiquei desolado.

    Durou pouco a forçada separação deles. Hoje, já recompus me plantel com menos aves, mesmo sem a inteira aprovação da dona da casa, minha mulher, que é um pouco indiferente à suavidade do canto do curió, achando-o perturbador algumas vezes.

    Seus animais de estimação morreram, contudo resiste no seu íntimo a afeição por bichos. Logo você estará novamente mimando-os e, em contrapartida, recebendo deles retribuição.

    Meus aplausos pelo belo texto.

    Eduardo Matos

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