Filha de João Marques da Silva e de Maria Carmina da Conceição, Lourdes Marques, nasceu no dia 25 de janeiro de 1929 em Juazeiro do Norte, na Quadra São Vicente, próximo da Rua do Salgadinho, hoje chamada de Trav. Maria Gonçalves, ou Praça do Memorial. Ela conta que quando tinha de três a quatro anos, ia com seus pais para escutar os conselhos do Padim Cícero, quando ele pregava em sua residência, na Rua São José, onde hoje funciona o Museu Padre Cícero. Em suas palavras ela diz: “Eu ficava bem quietinha, calada, em obediência aos meus pais, porque eles ensinavam que quando os mais velhos estavam falando criança tinha que ficar calada. Minha mãe sentava no chão, me colocava no colo, e eu adormecia. Quando Padim Cícero terminava o sermão, ela me acordava, e a gente ia para casa. Era gente demais, o quarteirão ficava praticamente lotado. Minha mãe contava que meu pai recorria a ele para pedir a opinião sobre um determinado trabalho, um aconselhamento na verdade. Lembro do dia de sua morte. Do caixão em cima da janela para o povo ver. Gente gritando, chorando, o luto, o clamor abalou o Juazeiro. Tecidos e mais tecidos pretos foram comprados para vestir a população em luto pela morte do seu maior benfeitor.” O tempo foi passando e Lourdes na companhia de seus oito irmãos. Vicente, Lia, Duca, Tonho, Zeca, Ciada, Cila e Maroly aproveitaram na medida do possível a infância, porque mesmo crianças já ajudavam nos afazeres domésticos as mulheres e os homens ajudavam o pai como ajudantes de pedreiro. Quando criança, ela contou que deu uma topada e arrancou a cabeça do dedo naquela época não existia antibiótica, usava somente uma pomada amarela para cicatrizar, mas doía demais. E à noite quando deitava era que doía, então começava a chorar não deixando os irmãos dormirem. Duca e Tonho não suportavam vê-la chorando e o que faziam, deixavam-no no quintal e fechavam a porta. O choro aumentava ainda mais, além da dor e o medo do escuro! São memórias que ela ainda guarda presente e que me confidenciou. A primeira Eucaristia fez com a idade de 11 anos. E sempre alimentou um grande desejo de participar de uma Lapinha, como cigana, porque achava linda a roupa toda colorida. Sua mãe, porém, sempre dava uma desculpa alegando que não dava certo. Até que ela descobriu que a roupa da sua primeira comunhão daria certo para ser a lua e dessa vez sua mãe permitiu. E ela com sua lucidez e um sorriso cativante canta para nós o versinho da lua:
“Sou a lua que dos astros venho
A lapinha de Belém
Sou a lua do alto da princesa
Que adorna imensa grandeza
Sou a lua que dos astros venho,
A lapinha de Belém.”
Algumas vezes ia ficar com Lia em Missão Velha e lá aprendeu a fazer bainha de vestidos, de calças e os primeiros ensaios na arte de bordar à mão. No ano de 1950 casou com Luiz de Souza Lima, tendo treze filhos, oito homens: Luilson, Lázaro, Luiz Filho, Lailson, Lairton, Lécio, Luzivaldo e Luiz Carlos; e cinco mulheres: Luciene, Luzenilde, Luzeneide, Luzilânia e Maria do Carmo. Os nomes foram escolhidos pelo pai, com exceção de Maria do Carmo, que teve seu nome ligado a uma promessa feita a Nossa Senhora do Carmo. O parto era de alto risco e Luordes se apegou com muita fé pedindo a intercessão de nossa Senhora e como foi atendida, batizou a filha com o nome de Maria do Carmo. Assim, com exceção deste, os nomes dos demais filhos do casal começam sempre com a letra L. Como os negócios de Luiz não iam muito bem, ele resolveu ir trabalhar fora e levando junto seu filho mais velho, Luilson, para morar em Belo Horizonte. Lá conseguiu trabalho e mandou buscar a família. Lourdes ficou com medo de levar uma família tão numerosa, ela e os doze filhos, e decidiu não ir. Mandou dizer para Luiz que ele mandasse o sustento dos filhos e ela iria também trabalhar para ajudar no sustento da família. Começou a vender calçados, perfumes, acompanhada de seu filho, Luiz Filho. As filhas cuidavam dos afazeres domésticos e dos irmãos menores. Entretanto, a despesa era alta, aluguel para pagar e débitos nas bodegas, então, sua irmã, Maroly, que estava morando sozinha após a morte da mãe, dona Carmina, convidou-a para morar com ela, na mesma casa que ela nasceu. Sem nenhuma cerimônia aceitou o convite e mudou-se definitivamente com os filhos, e é nesta casa que reside até hoje. O marido Luiz não quis acordo e resolveu nunca mais voltar para o convívio da família em Juazeiro, chegando a falecer por lá. As dificuldades, os filhos para estudar, fardamentos, livros, remédios, muitas despesas, enfim. Lia, sua irmã, como forma de ajudá-la levou para morar com ela mais uma filha, Luzilânia, porque Luciene já morava com ela. Maroly, sua irmã caçula trabalhava no escritório de seu Severino Alves, na loja A Vencedora, e contribuía financeiramente. Zeca, seu irmão que morava bem próximo, na Rua da Conceição soube das suas preocupações e disse: “Lourdes, todo sábado à tarde, quando eu voltar da feira de Barbalha, venha ou mande um dos meninos buscar uma mesada que darei para ajudar”. Lourdes acrescenta: Por muitos anos recebi essa contribuição do meu irmão tão generoso. Mas, mesmo assim faltava dinheiro porque as despesas eram altas demais por causa da família numerosa. Lourdes conta ainda que dona Marlúcia Almeida, vizinha do seu irmão Zeca, fabricava e ainda fabrica confecções me ofereceu para dar o abanhado, pregar botões e casear as confecções que ela fabricava. Aceitei e junto com Nilde, Neide e Lânia ficávamos até tarde da noite executando esse trabalho, que nos ajudou bastante. Também ajudei muitas vezes a De Jesus Batista preparando caldo nos eventos políticos. E foi graças a esses meus préstimos que consegui um contrato no Estado e no Município como Merendeira e Auxiliar de Serviços. Trabalhei na Escola do Menor; Escola 3 de junho; Grupo Padre Cícero e Secretária de Educação. Ministrei no ano de 1979 Alfabetização Funcional pelo Mobral”. E haja coisa, como ela mesmo diz. Sem contar com os bordados, fuxico, crochê, panos de prato e ponto de cruz. É uma verdadeira artista com as mãos. Ela faz um desabafo: “Até hoje não deixo de fazer algumas coisinhas, apesar das meninas não gostarem muito, porque eu fico com dor de cabeça por ficar com a cabeça abaixada. Não consigo parar; é de mim, ficar fazendo alguma coisa, se não fizer fico triste”. Apreciadora de eventos no Memorial, como palestras, apresentação de festivais escolares, show de cantores etc. faz questão de estar presente. Convidada por famílias amigas para participar da Renovação do Coração de Jesus, não falta. Ela conta mais da sua vida: “Faço parte do Apostolado da Oração há muitos anos e fui incentivada por minha irmã, Lia, para me associar. No mês de junho consagrado ao Sagrado Coração de Jesus compareço diariamente acompanhada de uma filha para fazer minha hora de guarda como manda os preceitos do associado. Estive presente na despedida de Lia da Presidência dessa entidade na qual ela esteve à frente durante quarenta e oito anos, entregando para Marinalva. Faço parte como associada da Irmandade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Sou uma pessoa feliz, abençoada por Deus e por Nossa Senhora das Dores e Padim Cícero”. Ela é avó de dezessete netos, sendo oito homens: Luilson Junior, Fabiano, Davi, Jardel, Jailson, Ítalo, Tiago e Hariel; e nove mulheres: Patrícia, Tatyana, Girlene (falecida), Magdalene, Magnólia, Laís, Vitória, Bruna e Héren. Bisnetos tem nove: cinco homens, Uriel, Henrique, Pedro André, João Miguel e Luiz Arthur; quatro mulheres: Mayana, Samira, Nicole e Melissa. Em minhas observações, como sobrinha por afinidade, porque ela é a única tia viva de Daniel, meu esposo, por parte do seu pai, Zeca Marques, percebi ao longo da minha convivência com ela, tratar-se de uma pessoa muito simpática, amável, carismática. Em todos os lugares onde trabalhou deixou sua marca de boa funcionária e boa amiga. É uma excelente contadora de histórias, se deixa encantar nas narrativas. Várias vezes foi entrevistada pelos meios de comunicação para narrar o que sabe e o que viu a respeito do Padre Cícero. Toda a família tem uma verdadeira admiração por ela, por tudo que passou e venceu. Os filhos se sentem orgulhosos desta mãe tão abnegada e batalhadora que hoje comemora oitenta e nove anos com uma lucidez maravilhosa e a vaidade não fica de lado, sempre anda muito arrumada, não dispensa os brincos, o batom e o rouge, como ela diz rindo. Que grande dádiva de Deus, que Ele a abençoe lhe proporcionando mais anos de vida para alegria e felicidade dos que a cercam. Parabéns tia Lourdes! Meus e do meu esposo Daniel, seu sobrinho. Todos nós lhe queremos muito bem. Felicidades!
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