segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Viagem de trem, uma aventura inesquecível

Na década de 60, menina-adolescente, fiz uma viagem de trem acompanhada de minha tia/madrinha Odete e de seu esposo, José Leornes, para Fortaleza. Essa foi a minha primeira viagem para visitar a nossa capital. Mamãe me presenteou com esse passeio devido à grande tristeza que me abateu após a morte do meu pai, Luiz Pereira e Silva, prematuramente, com apenas 45 anos de idade. Mamãe disse para titia Odete: "Leva Neuminha para que ela se alegre, despareça”. E assim aconteceu. Saímos no final da madrugada e chegamos em Fortaleza já noite. Nos locais que o trem parava surgiam os vendedores de frutas (tangerina, laranja, pinha), de amendoim, rolete de cana etc. Os vagões eram invadidos por eles e, outros ofereciam pelas janelas. Quando o trem dava sinal de partida, com seu apito típico, todos se afastavam e acenavam com a mão. Aqui coloco uma pausa e lembro com bastante nitidez do pavor que senti na subida da serra de Baturité, por causa dos precipícios  e curvas acentuadas. Não tinha coragem de olhar, fechava os olhos e ainda colocava as mãos em cima deles para não ver absolutamente nada. Sempre fui muito medrosa. Quando criança nunca tive coragem de subir a serra do Horto de carro. Na Sexta-feira Santa, subia com familiares e amigos a pé. Em uma excursão que fiz ao Rio de Janeiro fazia parte do roteiro visitar Petrópolis, e que surpresa! A serra circundada por curvas e que dá a impressão de uma espiral, visualizando enormes precipícios e se vê também fileira de carros abaixo, na forma de um anfiteatro. Não tinha vontade nenhuma de olhar o espetáculo. O suor nas mãos e os olhos fechados, pedindo a Deus que terminasse esse suplício. O medo continuava a me perseguir. Passado o tempo fui por necessidade obrigada a dirigir, ai, ai e aí o que fazer? Enfrentar com unhas e dentes o medo, consegui desta feita a batalha do trânsito e no exame de motorista, fui aprovada na primeira tentativa. Essa conquista causou mais alegria em Daniel, meu marido, do que em mim. Sabem por que? Porque ele desejava se libertar das minhas aporrinhações de quando o chamava para me levar para algum lugar. Aquela friezinha na barriga continuava e fazia parte já do meu instinto de defesa. Em viagem de férias em um determinado momento, Daniel dirigindo bem devagar, e eu me controlando, mas a minha paciência chegou ao limite e disse pra ele: “Meu bem, não dar para acelerar um pouco mais, dessa forma chegaremos amanhã”! Ele bem calmo, tirou um pouco os olhos da direção e disse: “Neuma, tenho escutado de você nesses trinta e tantos anos de casado: Chagas abertas, coração ferido... Não é pra menos que os meus nervos já estejam cansados”. Não aguentei e soltei uma gargalhada muito gostosa. Pé na estrada. Viagens, passeios e vamos nós. Nesta última viagem que fizemos recentemente à Curitiba, fizemos o passeio de trem para Morretes, atravessando a Serra do Mar. Antes tivemos acesso ao folder com as explicações, as imagens e todas as informações. Resolvemos fazer o passeio, pois, duas vezes já tínhamos ido para Curitiba e não tivemos coragem. Agora, amadurecida e distante dos medos e fobias não vacilei, vamos, vamos Daniel. E assim, em um dia chuvoso e de pouco sol, o trem com 23 vagões lotados de turistas subiu lentamente a imensa serra, passou por penhascos descomunais, passou por túneis escuros e extensos, vegetação imensa, hortênsias aos montes, cachoeiras até chegar à cidadezinha bem no alto a nos esperar para um passeio em calçamentos de paralelepípedo, com lojinhas, bancas de biscoitos, doces, bombons fabricados artesanalmente e os souvenires da região, o sorvete caseiro que é uma das atrações.. O medo evaporou-se. Curti demais, olhei tudo (Daniel ficou petrificado na cadeira), fotografei e voltei com a sensação leve de ter participado de uma grande aventura. Se vocês um dia forem a Curitiba não deixe de fazer o passeio de trem a Morretes. É uma experiência inesquecível. Uma viagem para testar os nervos. Mas deixo este lembrete: consulte antes para saber se o trem está funcionando, pois agora devido ao grande movimento de cargas do porto de Paranaguá há meses em que o serviço turístico fica desativado. 
Uma semana rica de graças e de bênçãos e um maravilhoso 2018 para vocês, meus queridos leitores.



As fotos acima são do trem na estação de Juazeiro do Norte











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