17.06.2012
A Cariri Revista está sendo um
ótimo veículo de motivação de assuntos para a minha Coluna. A edição nº 6, traz
na capa a bela Maria
Gomide, e conta nas páginas internas a trajetória do grupo
Carroça, criado por seus
pais, Carlos e Shirley. Eles
moraram também em Juazeiro e me lembro de quando residiram na rua onde moro, Santa
Rosa, na casa de n° 813, uma casa bem simples, com o piso de cimento e uma porta e uma
pequena janela. Dentro da casa eles colocaram almofadas espalhadas pelo chão,
esteiras e apenas o essencial para a sobrevivência. Quando esse casal
juntamente com um bebê chegou para morar no nosso quarteirão, tivemos uma grande
surpresa por serem diferentes de nós, nos trajes, vestimentas de hippie (assim
achávamos), a simplicidade e até no modo
de falar, tinham sotaque de sulista. Saíam pela manhã e voltavam sempre à
tardinha com o bebê colado no corpo do pai ou da mãe, no bebê canguru. Em
conversa com minha vizinha, Francisquinha, no intuito de angariar mais
informações sobre o casal, porque a memória precisou de uma sacudidela para
avivá-la, ela lembrou de um pote de barro instalado na cozinha, um caneco de flandres pregado na
parede e poucos utensílios domésticos. Algumas vezes entrava na casa e
encontrava Maria, bebezinho deitada no colo da mãe ou dormindo. Gostavam de
ficar sentados no chão por cima das almofadas. Numa das vezes Maria estava com
febre e Francisquinha levou o termômetro para medir sua temperatura. As
lembranças começam a aflorar e vejo-os com seus trajes
típicos, Shirley com saias rodadas, blusas coloridas e chinelas rasteiras.
Carlos, roupas folgadas, feitas de algodão cru e alpargatas de couro. Maria com
roupinhas de bebê e fraldas de tecido. O casal quando passava cumprimentava os
vizinhos rindo; demonstrava sempre estar alegre. Passava para nós o sentimento
de que era feliz com a vida que levava, de poucas regalias e como andarilhos. O
ganha pão dependia da plateia que assistia ao espetáculo do Palhaço Alegria,
Carlos e, que no final da apresentação, Shirley passava o chapéu para receber
as moedas. Nesse período que eles moraram por aqui, as crianças da vizinhança se divertiam muito. Violência,
insegurança e medo não existiam nessa época. Ficávamos tranquilos acompanhando
os passos enormes do palhaço
montado em suas longas pernas de pau. Quando Carlos, o palhaço Alegria, avisava que ia ter espetáculo,
dizendo assim: “Seja noite ou seja dia, viva o Palhaço Alegria”, as
crianças ficavam eufóricas e já se preparavam para acompanhar o
passeio que ele fazia pelas ruas próximas.
Nós, os pais, tínhamos que já preparar o
dinheiro que os filhos levariam para colocar na rodada do chapéu. Todas as
vezes, acompanhei meus filhos, Michel e Daniel Junior nessas andanças. O
espetáculo acontecia na rua em que o palhaço queria. Ele parava, as crianças e
os adultos se aglomeravam ao redor dele e daí surgia de dentro do palhaço
gigante, bonecos feitos de cabaça, chamados mamulengos. De uma janelinha o
primeiro a aparecer era
o
Cassimiro Coco, atrevido e brincalhão. O segredo da apresentação consistia na
manipulação das mãos e da voz que emitia um som esganiçado. Todos os presentes
ficavam encantados, e as palmas e os gritos e assovios surgiam. As crianças nas
noites dos espetáculos iam dormir mais tarde e era um deus nos acuda para acordar no dia
seguinte para ir ao colégio. Inspirado nos mamulengos do Palhaço Alegria,
Michel (meu filho), criou vários bonecos feitos com gesso, pôs os nomes de cada
um, e cada um deles tinha uma história. Acredito que no total eram oito bonecos. A roupa para que
manipulasse os bonecos, eu fazia. Ele montava no seu quarto uma sala para a
seção do espetáculo, estendia um lençol de um lado para o outro da parede e colocava cadeiras. E Daniel Junior se
encarregava de distribuir os ingressos
que ele mesmo confeccionava. Nossa casa ficava cheia de crianças e
também de adultos, pois ele exigia a nossa presença, dos seus avós e de Maria. Toda vez que Daniel Junior tentava imitar Michel, se atrapalhava e como não sabia fazer tão bem, a
plateia, (formada pelos coleguinhas) começava a vaiar e ele zangado
acabava a brincadeira. Foi tão bom esse tempo que tivemos como vizinhos esses artistas de rua, que naquela época
não eram tão famosos
como hoje, mas tivemos o privilégio de tê-los como vizinhos e também pela alegria que proporcionaram para
nossas crianças, somos gratos. Depois
eles se mudaram para o bairro
João Cabral e perdemos o contato. Porém,
em julho de 1999 fomos visitar familiares de Daniel em
Brasília e em um dos nossos passeios fomos à Esplanada dos Ministérios, à
Catedral e por fim conhecer o Conjunto Nacional, o primeiro shopping da Capital Federal. Ao entrar vejo um grupo de pessoas
assistindo a uma apresentação no primeiro
andar, ao lado da escadaria. Não acreditei no que vi, estava diante do Palhaço Alegria e toda sua família.
Fiquei emocionada, não sabia que tinha crescido tanto a prole. Junto dos
artistas, Carlos e Shirley estavam oito crianças, a escadinha nas idades.
Assistimos até ao final do espetáculo e depois, nos identificamos, tiramos
fotos com o grupo, nos abraçamos e,
depois demos tchau. Achei estupendo esse encontro porque estava
finalizando o fotobook que preparava para presentear Michel no dia de sua
formatura. Tempos depois os vi num programa de TV e outra vez, aqui em
Juazeiro, num domingo à tarde na Praça Padre Cícero debaixo do pé de Juazeiro.
Dessa vez não mais os meus filhos que
foram assistir e sim minhas netas, Heloísa e Isadora. Ficaram admiradas dos
palhacinhos com as pernas de pau e do Jaraguá. Sucesso, muitos aplausos e
prosperidade para o Grupo Carroça de Mamulengos, agora sob a direção da artista
nata, Maria Gomide.
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Cópia do ingresso para o show de bonecos de Michel e a capa da Cariri Revista com Maria Gomide |
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Nosso encontro com Carlos e sua família em Brasília. |
E O PALHAÇO O QUE É? É LADRÃO DE MULHER.
ResponderExcluirE ARROCHA NEGRADA. E ARROCHA NEGRADA. E ARROCHA NEGRADA. (É O NOVO!...)